A adolescência é, por excelência, um período de dúvidas e descobertas. Nesta fase, que de acordo com a Organização Mundial da Saúde, se inicia por volta dos 10 anos com a puberdade e acaba por volta dos 19 anos, ocorre uma avalanche de transformações físicas, psicológicas e comportamentais.

 

Inevitavelmente, a adolescência define-se como um período de transição e definição no ciclo da vida humana. Esta medeia a passagem da infância, onde existe dependência dos adultos, para a idade adulta, onde é apurada a autonomia económica e social. Neste processo, ocorre a maturidade fisiológica e a determinação da identidade, que culmina na maturidade social expressa nos direitos e deveres sociais, sexuais e legais, entre outros.

 

Formação da identidade sexual na adolescência


É também na adolescência, que as crianças, no quadro do seu desenvolvimento normal, exploram e experimentam a sua sexualidade, amadurecendo e definindo a sua identidade sexual. De uma forma geral, ao chegar aos 12 anos, o adolescente encontra-se num período receptivo ao início da prática de brincadeiras e experiências sexuais. É por isso comum que, neste cenário, possa ocorrer uma certa ambiguidade quanto à orientação sexual.

 

«A homossexualidade pressupõe uma atracção sexual, emocional e efectiva persistente por alguém do mesmo sexo e não pode, por isso, ser encarada como sinónimo de experiências homossexuais», refere Stam Poupalos, médico da clínica 121doc. Não obstante esta realidade, é desde tenra idade, por volta dos três anos, que se manifesta a identificação com um dos dois géneros.

 

Mudanças fisiológicas, psicológicas e comportamentais

 

Os primeiros sinais físicos sexuais e a capacidade de reprodução são, em termos biológicos, os sinais da entrada na adolescência, independentemente da orientação sexual.

 

Nos rapazes, ocorre, por exemplo:

 

- o crescimento dos testículos, escroto e pénis
- o início da produção de esperma
- o surgimento dos pêlos púbicos e outros pêlos noutras áreas corporais

Nas raparigas:
 

- aparece a menarca (a primeira menstruação)

- dá-se o desenvolvimento das trompas e do útero

- dá-se o amadurecimento do ovário>

- regista-se o aumento do tamanho da vagina e respectivos lábios

Apesar da progressiva abertura e educação do ocidente face à homossexualidade, facto é que a sua manifestação pode, na adolescência, desencadear uma baixa auto-estima, sentimentos de culpa, vergonha, medo da diferença e rejeição por parte dos pares e sociedade.

 

Estas manifestações podem traduzir-se em isolamento social, comportamento depressivo ou, até, suicida, com consequências, por exemplo, no sucesso educativo e integração laboral.

 

Já ao nível comportamental, os rapazes podem revelar uma maior afinidade com o sexo oposto e expressá-lo na forma como pensam, falam e agem. Já as raparigas, podem adotar comportamentos e um visual considerados mais masculinos. No entanto, estes elementos são somente indicadores e nunca regras universais e dogmáticas. Um menino pode, naturalmente, gostar de bonecas e uma menina pode preferir brincar com carros sem, por isso, revelarem uma orientação homossexual futura.

 

A homossexualidade não é uma escolha


A homossexualidade foi encarada, até recentemente, como uma doença mental. Foi somente a 17 de Maio de 1990 que a Organização Mundial de Saúde (OMS) deixou de considerar a homossexualidade na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde. Efetivamente, esta orientação sexual não é uma escolha, sendo que não há que sentir culpa por se ser diferente na expressão da sexualidade.

 

Seja como for, os adolescentes homossexuais não deixam de ter necessidades e padrões de desenvolvimento semelhantes aos adolescentes heterossexuais, nomeadamente no que diz respeito ao estabelecimento de uma identidade sexual, à necessidade de gestão e regulação emocional, à escolha de ter ou não ter intimidade física, de que tipo e se com recurso a métodos contraceptivos. Quanto às causas que a determinam e justificam, estas são desconhecidas, apesar de ser possível especular quanto a razões genéticas e sociais, entre outras.

O papel dos pais


Os progenitores devem aceitar e apoiar os filhos na sua orientação sexual, proporcionando a estabilidade, segurança e conforto fundamentais à superação de toda e qualquer discriminação.

 

Consoante a moldura moral e de valores, pode não ser uma fase fácil para alguns pais, mas tratar o tema como tabu ou incidir na culpabilização não irá solucionar a situação.

 

Esta requer, pelo contrário, que se olhe para os  filhos tal como eles são e não como foram idealizados nas projecções parentais. A abordagem do tema da homossexualidade do jovem necessita, assim, de acontecer em diálogo, com abertura e intimidade, quando existir, por parte deste, a convicção da sua orientação sexual que é determinada pela fase de experimentação e experiência. Um bom acompanhamento por parte dos pais poderá ser decisivo para um acesso eficaz a informação credível e a uma socialização satisfatória e completa.

 

Texto: Clínica 121doc