Quem nunca sentiu inveja daqueles pais que passam horas a jogar à bola com filhos? Quem nunca se sente um bocadinho culpado por só conseguir fazer o mesmo durante uns minutos?

 

Depois há aquele amigo que construiu uma casa fantástica numa árvore do jardim, para os miúdos brincarem («Pai, por que não podemos ter uma casa na árvore como eles têm?»). E há uma mãe que cria caças ao tesouro complexas e engenhosas sempre que dá uma festa de aniversário. E uma outra que todas as semanas leva a filha à mesma aula de ballet a que leva a sua, e que consegue ficar com uma expressão de quem está a gostar muito de assistir e… os exemplos poderiam não ficar por aqui.

 

Provavelmente, já sabe o que vai ler a seguir. Estamos a concentrar-nos naquilo que os outros conseguem fazer e nós não, mas na verdade nós conseguimos fazer muitas coisas que eles não conseguem – coisas que consideramos banais, mas que têm tanto valor como as deles.

 

Por exemplo, ler em voz alta para as crianças. Há pais que, sendo bastante extrovertidos, sentem mesmo prazer em passar horas a ler longas histórias, a fazer diferentes vozes e entoações e caracterizações e efeitos sonoros e sussurros dramáticos e tudo o mais. Mas para esses pais isso é tão natural que demoram anos a perceber que é algo tão válido como saber fazer uma casa na árvore do jardim ou jogar futebol.

 

Nas ocasiões raras em que estes pais dão uns toques na bola com os garotos, é perfeitamente notório que só o fazem porque acham que devem fazê-lo. Não é que este seja um mau motivo, e vale a pena, mas nunca será como aquele amigo, cujo entusiasmo com o jogo é tão grande que contagia os miúdos. Mas se calhar ele não é capaz de ler uma história em voz alta tão bem como nós. Ou de cozinhar um esparguete à bolonhesa tão bom como o nosso.

 

A questão é esta: os pais seguem que seguem estas regras sabem em que é que são bons. Não desistem de tudo o resto, mas fazemaquilo que está ao seu alcance. Se não têm queda para o futebol, leem mais histórias, fazem mais cozinhados deliciosos, têm uma paciência infinita com as lições de piano dos filhos, ensinam-nos a arranjar os carrinhos, partilham o seu entusiasmo pela Guerra das Estrelas ou por motas ou pelo My Little Pony (se bem que é preciso um grande esforço em relação a este último).

 

É importante que os pais saibam em que é que são bons, e que tenham confiança nas suas mais-valias. Desse modo podem observar outros pais a fazer coisas que nunca conseguiriam fazer sem se sentirem inferiorizados. Afinal, todos sabemos que esses tais pais também não conseguem fazer tudo. Sempre que sentir uma pontinha de inveja, pare e lembre-se daquilo em que é bom.

 


Ideia-chave:

Os pais que seguem estas regras não desistem de tudo o resto, mas tomam partido das suas mais-valias.

 

 

Texto adaptado por Maria João Pratt

Fonte: 100 regras para educar o seu filho (2009), de Richard Templar - Editorial Presença

 

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