Investigadores de Taiwan relatam uma redução de 90 por cento das mortes por complicações da hepatite B desde que o país iniciou seu programa de vacinação infantil em 1984.

 

As campanhas de vacinação também diminuíram a propagação da hepatite B, que pode causar lesões no fígado, cancro do fígado e uma reação fatal em bebês chamada hepatite fulminante infantil, afirmam os cientistas.

 

«A imunização tem proporcionado uma proteção de 30 anos contra a hepatite aguda e a doenças crónicas do fígado potencialmente fatais, incluindo cirrose e cancro», afirma Chien- Jen Chen, vice-presidente do Centro de Pesquisa Genómica da Academia Sinica, em Taipé.

 

As implicações dos resultados são globais

Chien-Jen Chen diz que existem 350 milhões de portadores crónicos de hepatite B em todo o mundo, com maior prevalência na região da Ásia-Pacífico e na África subsaariana. A infeção pode ser transmitida da mãe para o recém-nascido.

 

«Todos os recém-nascidos em áreas de alta prevalência devem ser vacinados para reduzir a carga de doenças do fígado e os custos dos cuidados de saúde", declara.

 

O relatório foi publicado na edição de hoje da revista Journal of the American Medical Association (JAMA).

 

De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), há cerca de 350 milhões de pessoas infetadas com hepatite B, em todo o mundo. Segundo a Direção-Geral da Saúde (DGS), estima-se que em Portugal existam 150 mil portadores crónicos.

A vacinação da hepatite B em Portugal

No início dos anos 90 do século XX, a Direção-Geral da Saúde implementou o rastreio da infeção na grávida e recomendou a vacinação e administração de imunoglobulina específica ao recém-nascido filho de mãe infetada, logo após o parto. Simultaneamente, foi recomendada a vacinação de grupos de risco e dos profissionais de saúde. Em 1993, a DGS publicou uma recomendação para a vacinação contra a hepatite B a todos os adolescentes, que foi reforçada em 1995.

 

No ano 2000, a DGS introduziu, formalmente, a vacina contra a hepatite B no Programa Nacional de Vacinação (PNV) com vacinação dos recém-nascidos num esquema de três doses (ao nascimento, aos 2 e aos 6 meses de idade) simultaneamente com a vacinação dos adolescentes.

 

Em 2012, o esquema de vacinação passou a incluir apenas os recém-nascidos (ano em que os nascidos a partir de 2000, quando atingem 12 anos de idade já estão vacinados).

 

A vacina contra a hepatite B é segura.

Os novos resultados adicionam ainda mais suporte à necessidade de vacinação, disse um especialista dos Estados Unidos da América.

 

«Isto é algo que já sabíamos e que agora sai reforçado – as crianças devem mesmo ser vacinadas contra a hepatite B», afirmou Dr. Marc Siegel, professor no Centro Médico Langone da Universidade de Nova Iorque. «A imunização de crianças com a vacina da hepatite B, que é altamente eficaz, conduz a uma diminuição dramática na infeção crónica e na incidência do cancro do fígado, que são as doenças esperadas em mais de 50 por cento dos doentes infetados com hepatite B.»

 

Além disso, a vacinação constrói imunidade de grupo uma vez que menos pessoas estarão infetadas, reduzindo assim o alastramento da doença na população, disse Marc Siegel. «Todos devem ser vacinados contra o vírus – toda as pessoas», afirmou. «Tanto crianças como adultos, devem ser todos vacinados.»

 

A vacina contra a hepatite B é segura. «A doença é assustadora – a vacina não é», afirma a equipa de investigação taiwanesa.

 

Para o estudo, a equipa de Chien-Jen Chen analisou os resultados de 30 anos do programa de imunização em Taiwan. Nos dois primeiros anos, o programa de imunização cobria apenas os recém-nascidos de mães que eram portadoras da doença. Em seguida, alargou-se a todos os recém-nascidos.

 

Em julho de 1987, as vacinas foram estendidas de forma a imunizar crianças em idade pré-escolar. Entre 1988 e 1999, o programa foi alargado às crianças do ensino básico. A taxa de vacinação para aqueles nascidos desde 1984 até 2010 foi entre 89 e 97 por cento, segundo os investigadores.

 

Para aqueles que nasceram entre 1977 e 2004, ocorreu uma redução de mais de 90 por cento nas mortes por doença crónica do fígado e cancro do fígado, e houve 80 por cento menos casos de cancro do fígado em geral.

 

As mortes de crianças por hepatite B fulminante também diminuíram 90 por cento.

Modos de transmissão do vírus

A hepatite B é transmitida quando o sangue, sémen e outros fluídos corporais infetados com o vírus entra no corpo de uma pessoa não infetada, de acordo com a DGS.

 

A infeção pode ser transmitida de uma mãe infetada para o recém-nascido. O vírus da hepatite B também pode ser transmitido durante a relação sexual com uma pessoa infetada ou por partilha de agulhas, seringas ou outros objetos relacionados com drogas injetáveis.

 

Partilhar lâminas de barbear ou escovas de dentes com uma pessoa infetada pode transmitir a doença, tal como o contacto direto com sangue ou feridas abertas de uma pessoa infetada, também de acordo com a DGS.

 

 

Maria João Pratt