A denúncia partiu da Associação Académica da Universidade do Minho (AAUM), que desde janeiro tem vindo a denunciar "sucessivos e incompreensíveis" atrasos no pagamento, a cargo da Direção Geral de Ensino Superior (DGES), das bolsas a estudantes.

Maria, estudante do segundo ano de Enfermagem na Universidade do Minho, em Braga, é uma dos "cerca de 80" estudantes daquela academia que desde abril não recebem "qualquer tipo de ajuda" do Estado, já não paga o alojamento na residência universitária e garante não ter meios para cumprir com as obrigações académicas.

"Vou iniciar agora um estágio obrigatório em Vila Verde [a cerca de 15 quilómetros de Braga] e não tenho como pagar a deslocação, menos ainda a alimentação. O pior é que se não completar este estágio o que fiz no Hospital de Braga, que terminei agora, perde o efeito e tenho que repetir no próximo ano letivo", explicou à Lusa.

O valor da bolsa daquela estudante "ronda os 4 mil euros anuais", cerca de 350 euros mensais mais um complemento de 70 euros para pagamento do quarto na residência universitária de Braga, uma vez que Maria é de fora do concelho bracarense.

"O pagamento do quarto é feito de forma automática quando recebo a bolsa. Como não recebi ainda tenho a renda em atraso. Acredito que os serviços saibam o porquê do atraso, mas não deixa de ser humilhante", disse.

Para Maria, a bolsa de estudo é "fundamental" para conseguir estudar.

Sem condições para continuar a estudar

"Eu só vim para a universidade porque sabia que tinha direito a bolsa. Os meus pais não têm condições para me manter a estudar e já lhes tive que pedir dinheiro este mês. Sem a bolsa não consigo estudar", contextualizou.

"Este é apenas um dos mais de 80 casos que temos conhecimento", referiu o presidente da AAUM, Carlos Videira.

"Desde janeiro que tem havido atrasos sucessivos e incompreensíveis no pagamento das prestações aos alunos. Em janeiro porque houve problemas na plataforma da DGES, depois bolsas que deviam ter começado a ser pagas em outubro só o foram em abril e agora mais um atraso", disse.

Segundo o dirigente académico, a AAUM "pouco" pode fazer: "Não temos meios para ajudar todos os que estão com as bolsas em atraso. Podemos sim, e isso fazemos, denunciar, acompanhar caso a caso e não deixar que estes atrasos caiam no esquecimento", referiu.

Entre denúncias e "troca de informações ora formais, ora informais" entre a AAUM, os serviços académicos da UMinho, estudantes e a DGES, não há uma data apontada para o pagamento das referidas bolsas.

Não sei quando vou receber o que tenho em atraso nem se os atrasos vão continuar. Já houve atrasos no passado que foram regularizados num determinado mês e depois ficou esse mês por pagar. Ninguém nos dá uma data", disse Maria.

"Não conseguimos neste momento identificar uma data para a realização dos pagamentos", foi a última resposta conseguida pela AAUM junto de serviços do Ensino Superior, ainda que com uma garantia: "A DGES deu já início a todos os procedimentos no sentido de poder ser disponibilizada a verba necessária para o pagamento de bolsas de estudo no mês de junho".