Realizado pela Associação Portuguesa de Cronobiologia e Medicina do Sono (APCMS), o estudo procurou identificar as características do sono nos adolescentes, tendo inquirido 354 jovens de várias escolas do país em 2013.

Segundo o estudo, a maior parte dos adolescentes (cerca de 67%) dorme entre sete e nove horas, o que, segundo os especialistas, “é insuficiente”, uma vez que o ideal seria dez horas, e comporta “riscos reais” para os jovens, como mau desempenho escolar e adoção de comportamentos desviantes.

Em declarações à agência Lusa, o presidente da associação e coordenador do estudo, Miguel Meira e Cruz, disse que estes dados “não são surpresa”, mas “vêm cimentar a preocupação que existe sobre a restrição e privação do sono” nos adolescentes.

“Os adolescentes não têm grandes regras para ir para a cama, fisiologicamente também estão mais propensos para se deitarem mais tarde, disse Miguel Meira e Cruz.

Por outro lado, têm muito mais focos de atenção, como as saídas à noite, estudar durante a noite, as discotecas, os telemóveis, as redes sociais.

Segundo o especialista, os adolescentes privados de sono têm maior probabilidade de terem acidentes, um pior rendimento e comportamento escolar e problemas de saúde, porque o sistema imunitário fica mais débil.

Também “têm mais comportamentos de risco, consomem mais substâncias nocivas, bebem mais álcool e têm comportamentos desviantes”, sublinhou.

Helena Loureiro, coautora do trabalho, apontou diversas explicações para os resultados do estudo, divulgados a propósito do Dia Mundial do Sono (13 de março).

“Entre outros motivos importantes, prevalecem hábitos desajustados, consumo calórico excessivo e implementação deficitária de regras elementares de higiene do sono”, disse Helena Loureiro.

Perante estes resultados, Miguel Meira e Cruz defendeu que têm de ser mantidos esforços para mudar comportamentos e educar a população jovem e, sobretudo, as famílias para que “o sono, algo fundamental à vida, essencial para o desenvolvimento, saúde e bem-estar, tenha um papel central na vida dos jovens”.

O estudo também analisou o cronotipo destes adolescentes (vespertinos, intermediários ou matutinos) e a sua interação com a duração do sono e sonolência.

“Constatámos que existia uma correlação inversa entre sonolência e cronotipo, ou seja, parece que os vespertinos são mais afetados pela sonolência e suas potenciais consequências”, explicou Miguel Meira Cruz.

Por outro lado, a relação linear direta entre o cronotipo e a duração de sono permite concluir que os matutinos têm maior tempo de sono, provavelmente porque se deitam mais cedo e são mais regrados.

Para o coordenador do estudo, seria vantajoso “definir e adequar horários em função do relógio biológico dos estudantes, o que não é feito”.

Miguel Meira Cruz adiantou que estes problemas levam muitos jovens às consultas do sono. “Muitas vezes chegam-nos à consulta com dificuldades em manterem-se acordados durante as aulas, com sonolência”.

Segundo o especialista, estas situações são relativamente fáceis de tratar, na maioria das vezes não envolve fármacos, mas “requerem uma disciplina do adolescente, mas também da família”, para mudar hábitos e comportamentos.