As crianças com autismo apresentaram uma melhoria significativa após seis meses de exercícios sensoriais simples, feitos em casa, recorrendo a utensílios de uso diário, tais como perfumes, colheres e esponjas, de acordo com um novo estudo da Universidade da Califórnia Irvine, nos EUA.

 

Os investigadores descobriram que um tratamento conhecido como «enriquecimento sensorial» conduziu a ganhos significativos em indivíduos do sexo masculino, com idades compreendidas entre os 3 e os 12 anos. Os resultados formam publicados na versão online da revista Behavioral Neuroscience, da Associação Americana de Psicologia.

 

Os co-autores do estudo, Michael Leon e Cynthia Woo, escolheram aleatoriamente 28 rapazes para um de dois grupos, depois de ajustados para a idade e gravidade do autismo. Durante meio ano, todos os indivíduos participaram em terapias padrão para o autismo, mas um dos grupos teve exercícios diários de enriquecimento sensorial.

 

Foram fornecidos aos pais destas crianças um conjunto de produtos de uso doméstico para aumentar a estimulação sensorial, incluindo óleos essenciais de maçã, lavanda, limão e baunilha. Os meninos cheiravam e manipulavam quatro desses produtos por dia e ouviam música clássica todas as noites.

 

Além disso, os pais realizaram com os seus filhos duas sessões diárias de quatro a sete exercícios, envolvendo diferentes combinações de estímulos sensoriais – tato, temperatura, visão e movimento, entre eles. Cada sessão demorava 15 a 30 minutos para ser concluída.

 

Após seis meses de tratamento, 42 por cento das crianças do grupo de enriquecimento sensorial apresentaram melhoria significativa em comportamentos comumente afetados pelo autismo – relacionamento com outras pessoas, respostas emocionais típicas e capacidade de ouvir o outro, por exemplo – em comparação com 7 por cento no grupo de tratamento padrão. Também pontuaram mais alto na função cognitiva, enquanto as pontuações médias para os meninos no grupo de tratamento padrão diminuíram. Além disso, 69 por cento dos pais do grupo de enriquecimento sensorial relataram uma melhoria, em comparação com 31 por cento dos pais no grupo de tratamento padrão.

 

«Porque os pais podem dar aos seus filhos enriquecimento sensorial recorrendo a utensílios disponíveis em casa, esta terapia fornece uma opção de baixo custo para o desenvolvimento do progresso dos seus filhos», declarou Cynthia Woo.

 

Os investigadores consideram que as terapias mais recentes para o autismo devem ser iniciadas numa idade muito precoce para serem bem sucedidas, enquanto que a idade média neste estudo foi de 6,6 anos. «Acreditamos que o enriquecimento sensorial pode ser uma terapia eficaz para o tratamento do autismo, especialmente entre as crianças a partir dos 3 anos», disse Michael Leon, professor de neurobiologia e comportamento do Centro de Investigação para o Tratamento do Autismo da UC Irvine.

 

«Simultaneamente, precisamos saber se podemos otimizar o tratamento, se há subgrupos de crianças para as quais é mais eficaz, se a terapia funciona para crianças mais novas ou mais velhas e se pode ser eficaz por si mesmo».

 

Micahel Leon e Cynthia Woo estão agora a realizar um novo ensaio clínico, mais amplo e aleatório que inclui raparigas.

 

«Temos observado casos em que a terapia de enriquecimento sensorial foi utilizada sem qualquer outra terapia, em que as crianças foram claramente sensíveis», acrescentou Michael Leon. «Esperamos que este novo tratamento venha a beneficiar crianças com autismo, os seus pais e a sociedade como um todo», concluiu Michael Leon.

 

 

Maria João Pratt