O "SuperNanny" é um programa de televisão criado pela televisão inglesa e adaptado em outros países como Estados Unidos e Brasil. A ideia deste programa é mostrar ao público como impor a disciplina e regras às crianças. Para isso, uma psicóloga, "coacher" ou terapeuta - varia de país para país - ajuda os progenitores a estabelecerem regras e limites e a melhorarem a comunicação entre todos, com vista a criar uma dinâmica familiar mais saudável.

Após o sucesso obtido no Reino Unido, o programa foi produzido a nível local em vários países como Alemanha (RTL), Espanha (Cuatro), França (M6, NT1 e TF1), Suécia (Viafree) entre um total de 22 países.

Ontem chegou a Portugal através da SIC. Segundo o grupo Impresa, estes "são exemplos de países onde os padrões de proteção dos direitos dos menores não se revelam menos exigentes do que os existentes em Portugal. A experiência acumulada nesses países tem demonstrado que o SuperNanny não gera efeitos negativos ou de censura em ambiente escolar e social, antes contribuindo para uma melhoria significativa da qualidade de vida familiar".

No entanto, assim que estreou no Reino Unido, a Organização das Nações Unidas (ONU) e Comité dos Direitos das Crianças britânico insurgiram-se logo contra o programa, mas sem efeito. O formato manteve-se no Channel 4 durante sete temporadas, tal como aconteceu nos Estados Unidos.

UNICEF em Portugal e IAC contra programa

UNICEF Portugal já tomou posição sobre o programa, afirmando que “vai contra o interesse superior das crianças, violando alguns dos seus direitos, nomeadamente o direito da criança a ser protegida contra intromissão na sua vida privada”. Já o Instituto de Apoio à Criança (IAC) considerou que o programa uma “violação do direito de uma criança à sua imagem e à intimidade da sua vida privada”.

Hoje, a Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens (CNPDPCJ) considerou “existir um elevado risco” de o programa da SIC ‘Supernanny’ “violar os direitos das crianças”, nomeadamente o direito à reserva da vida privada.  A SIC começou a emitir no domingo o programa ‘Supernanny’ em que uma psicóloga clinica se desloca a casa de uma família para ajudar os pais a controlar a rebeldia dos filhos.

“Numa primeira análise efetuada ao conteúdo do programa”, a comissão considera existir um “elevado risco” de este “violar os direitos das crianças, designadamente o direito à sua imagem, à reserva da sua vida privada e à sua intimidade”.

Confrontada com a queixa da CNPDPCJ, a psicóloga Teresa Paula Marques diz que a questão da violação da privacidade e dos direitos das crianças que aparecem no formato “é um problema da SIC”, escreve o jornal Observador. Sobre a sua responsabilidade como profissional, a profissional garantiu ainda: “Não estou no programa como psicóloga”.

O Conselho Jurisdicional da Ordem dos Psicólogos já admitiu que poderá abrir um processocontra Teresa Paula Marques, na sequência de queixas recebidas após a emissão do primeiro episódio do programa "Supernanny", que estreou no domingo no canal de televisão SIC.

Para este canal de televisão, o programa pauta-se pelo "estrito cumprimento da lei aplicável", no quanl "são abordadas situações reais, ocorridas em ambiente familiar, de um modo responsável, não exibicionista e sem explorar situações de particular fragilidade". Para a SIC, o programa "aborda situações comuns a muitas famílias, com um mero intuito pedagógico, não substituindo qualquer diagnóstico e/ou aconselhamento psicológico".

Caso remetido para a ERC

A Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens considera ainda que o conteúdo do programa é “manifestamente contrário ao superior interesse da criança, podendo produzir efeitos nefastos na sua personalidade, imediatos e a prazo”.

No âmbito das suas atribuições, e tendo em conta os conteúdos pré-anunciados do programa e queixas remetidas à comissão, a CNPDPCJ manifestou junto da estação de televisão SIC a sua “preocupação face a este tipo de formato e conteúdos solicitando uma intervenção com vista à salvaguarda do superior interesse da criança”. Remeteu igualmente para a Entidade Reguladora da Comunicação Social o pedido de análise do conteúdo do programa.

A CNPDPCJ informa ainda que encaminhou para a Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) com competência territorial a situação concreta transmitida no domingo pela SIC para “avaliação e acompanhamento do caso”.

No comunicado, a comissão nacional apela também aos meios de comunicação social que “assumam um papel responsável, protetor e defensor dos direitos da criança”,

Reconhecendo o papel fundamental da comunicação social na “construção de uma opinião pública informada e sensibilizada para a defesa dos direitos da criança”, a comissão nacional apela aos media que “assumam um papel responsável, protetor e defensor dos direitos da criança”.

Quem é Teresa Paula Marques, a psicóloga do "Supernanny"?

Teresa Paula Marques nasceu a 31 de Janeiro de 1966, no Tramagal, uma vila do concelho de Abrantes.

Em 1987 entra na faculdade, onde se licencia em Psicologia Clínica.

Também é Mestre em Psicopatologia e concluiu recentemente o doutoramento em Psicologia da Educação pelas faculdades de Psicologia de Lisboa e de Coimbra.

Depois de terminar o seu curso, trabalhou dois anos num bairro com famílias de etnia cigana, seguindo-se o desafio de trabalhar com pessoas seropositivas e respetivas famílias, às quais dava apoio psicológico e aconselhamento.

Exerce psicologia há 25 anos, tanto na área clínica como na educação, dá aulas e também formação de “Aconselhamento parental” a profissionais.