Investigadores americanos analisaram a forma como as crianças olham para rostos desde o nascimento até à idade de três anos. Descobriram que as crianças a quem mais tarde foi diagnosticado autismo apresentavam um contato visual diminuído – uma característica do autismo – nos primeiros meses de vida.

 

A descoberta, publicada na revista Nature, traz esperança para intervenções precoces para combater o autismo, revelam os especialistas.

 

No estudo, investigadores da Escola de Medicina da Universidade de Emory e do Centro de Autismo e Saúde Infantil Marcus, ambos em Atlanta (EUA), recorrem a tecnologia de rastreamento ocular para medir a forma como os bebés olham e respondem a pistas sociais.

 

A equipa descobriu que as crianças mais tarde diagnosticadas com autismo mostraram um declínio constante na atenção aos olhos de outras pessoas a partir da idade de dois meses, quando viam vídeos de interações naturais humanas.

 

O líder da investigação, Warren Jones, afirma em comunicado que «Isto diz-nos, pela primeira vez, que é possível detetar alguns sinais de autismo nos primeiros meses de vida?».

 

O estudo acompanhou 59 crianças que tinham um alto risco de autismo por terem irmãos com a doença, e 51 crianças de baixo risco. Warren Jones e o seu colega Ami Klin seguiram estas crianças até aos três anos de idade, quando as crianças foram formalmente avaliadas para o autismo.

 

Treze das crianças foram diagnosticadas com transtornos do espectro do autismo – uma série de distúrbios que inclui o autismo e a síndroma de Asperger – 11 meninos e duas meninas.

 

Os dois cientistas, então, voltaram a olhar para os dados de rastreamento ocular e o que descobriram foi surpreendente: «Em crianças com autismo, o contato visual já está em declínio nos primeiros seis meses de vida», afirma Warren Jones.

 

Mas acrescenta que tal só poderia ser visto com tecnologia sofisticada e que não era visível para os pais. «Não é algo que os pais sejam capazes de ver por si mesmo. Se os pais têm preocupações, devem falar com o pediatra que acompanha o bebé.»

 

Deborah Riby, do departamento de psicologia da Universidade de Durham (Reino Unido), afirma que o estudo proporciona um conhecimento sobre a sincronização da atenção social e crianças que podem vir a desenvolver autismo.

 

«Estes marcadores precoces são extremamente importantes para que possamos mais cedo diagnosticar uma criança com distúrbios do espectro do autismo. Quanto mais cedo identificarmos, mais precocemente poderemos começar a intervenção com vista a um melhor desenvolvimento para que a criança possa atingir o seu máximo potencial.»

 

 

Maria João Pratt

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