Em declarações à Lusa no âmbito do dia mundial de luta contra a Sida, que se assinala hoje, o secretário executivo do Comité de Coordenação de Combate à Sida (CCS-SIDA) em Cabo Verde, Artur Correia, disse que o número de crianças que nascem seropositivas já foi de 15%, mas agora varia entre zero a 3% e o objetivo é eliminar a transmissão vertical - de mãe para filho.

"Talvez o sucesso do programa de prevenção é que leva as mulheres a ganharem confiança e engravidarem outra vez, mas para nós é preocupante porque aumenta o risco de transmissão e isso numa altura que estamos a pensar na eliminação da transmissão vertical", salientou.

Cabo Verde realiza testes em cerca de 90% das grávidas e em 2014 registou 35 grávidas no seio das mulheres seropositivas, mas Artur Correia indicou que o número de grávidas seropositivas tem vindo a diminuir, na ordem os 0,6% a 0,8%.

"Se uma grávida seropositiva não fizer nenhum tratamento para evitar a transmissão de mãe para filho o risco de ela transmitir a doença ao seu filho varia entre 15 a 45% e se ela fizer um bom tratamento para a prevenção de mãe para filho esse risco diminui para 1%", prosseguiu Artur Correia, sublinhando o bom serviço de prevenção e seguimento nas estruturas de saúde.

O secretário executivo da CCS-SIDA entendeu que é preciso sensibilizar as mulheres seropositivas para limitarem o número de gravidez porque o risco vai aumentando, mas lembrou que é algo que não deve ser imposto.

A taxa de prevalência do VIH-SIDA em Cabo Verde é de 0,8%, com cerca de 2.300 casos conhecidos pelas autoridades sanitárias, sendo 1.300 em tratamento.

Entretanto, Artur Correia salientou que, com essa taxa de prevalência, o país deveria conhecer cerca de 4.000 casos, mas isso só será possível com o aumento da procura e da cobertura em número de testes.

"O número de novos casos que aparecem todos os anos reflete a procurar pelas unidades de saúde e pelas organizações não governamentais que fazem testes. Quanto mais for o número de testes feitos, vamos encontrar mais casos porque ainda não conhecemos todos os casos", explicou.

Artur Correia sublinhou que o aumento de novos casos não quer dizer que a situação piorou no país, mas sim que as estruturas de saúde melhoraram a sua capacidade de resposta e as pessoas estão agora mais conscientes e procuram mais os profissionais.

Em Cabo Verde, prosseguiu Artur Correia, a epidemia da Sida é concentrada maioritariamente nos consumidores de droga, em que a prevalência é mais do que três vezes superior à população em geral, nos profissionais de sexo, que é sete vezes superior, e nos homossexuais, em que a prevalência é 15 vezes a registada na população em geral.

"O desenvolvimento da luta permitiu fazer estudos e conhecer melhor a dinâmica da epidemia e, neste momento, já sabemos onde é o foco maior de transmissão e temos feito um trabalho de educação e formação para tentar fazer uma prevenção primária", lembrou.

A nível das ilhas, Artur Correia indicou que a prevalência é maior nos grandes centros urbanos de Praia, Mindelo, Assomada, nas ilhas mais turísticas do Sal e Boavista e em São Filipe, no Fogo.

O objetivo, disse, é reforçar a estratégia de intervenção de proximidade, para tentar estancar a evolução da epidemia nos grupos vulneráveis e educar a população em geral e os parceiros desses grupos para que tenham comportamentos de menor risco.

Outro dado revelado pelo responsável é que os homens, que são os mais infetados, vão menos aos serviços de saúde, e quando vão, chegam tarde e já num estado mais avançado da doença, o que justifica o facto de morrerem mais homens do que mulheres.

Em Cabo Verde, morrem por ano entre 70 a 80 pessoas infetadas com SIDA, informou.

Artur Correia afirmou que o trabalho será feito na sensibilização dos homens para que procuram mais os serviços de saúde no sentido de fazerem os testes e iniciar o tratamento.

As atividades para assinalar o dia mundial de luta contra a Sida vão acontecer um pouco por todo o arquipélago, mas o ato central será na cidade da Praia, onde será homenageado, a título póstumo, José Rocha, o primeiro seropositivo em Cabo Verde.