Em entrevista à Lusa para o balanço do ano que termina este mês, o Provedor do Estudante, o catedrático Carlos Costa, 68 anos, conta que o gabinete é uma espécie de “porto seguro” ou “um ombro amigo” onde os alunos encontram uma ponte facilitadora para resolver dilemas de legislação, pedir apoios financeiros ou apenas para “desabafar” os “seus problemas pessoais”, principalmente do foro social, em que, por vezes, ficam a falar durante uma hora.

"Costumo dizer que não é um gabinete de psicologia, mas funciona com o desabafo. As pessoas precisam de deitar cá para fora. E eu disponibilizo-me a ouvir e a dar conselhos", conta.

Carlos Costa, professor jubilado pelos “altos serviços prestados à Universidade do Porto”, assegura uma atuação de “confidencialidade”, “imparcialidade” e “independência” a todos os estudantes que lhe pedem ajuda.

“Há um dever de confidencialidade que existe”, assegura Carlos Costa, referindo que é fundamental, na função de provedor, que haja “um ambiente de confiança mútua”, para que as coisas funcionem. “Uma das coisas que eu tenho cuidado é manter níveis de confiança elevados quer do lado dos estudantes, quer do lado da administração”.

A liquidação de taxas de inscrição, juros de mora, perda de bolsas de estudo, combate ao abandono do ensino superior devido à crise económica e as dificuldades de relacionamento na sociedade estudantil são outros problemas que chegam aquele “porto de abrigo”, criado em 2010, numa sala na Reitoria da Universidade do Porto, e que já auxiliou ao longo destes seis anos mais de meio milhar de alunos.

Na interpretação pessoal de Carlos Costa, alguns dos problemas dos estudantes de socialização “resultam do seu caráter muito introvertido”, que os leva depois, a ter “dificuldades em se movimentarem no meio social”, que agora é no contexto da universidade, mas depois vai ser fora. Quando os casos são mais graves, os alunos são conduzidos para gabinetes de apoio psicológico, acrescenta aquele responsável.

O Provedor do Estudante tem também de lidar com problemas relacionados com dificuldades financeiras dos estudantes estrangeiros que muitas vezes deixam de receber bolsas de estudo, como acontece com alunos de Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) e do Brasil, revela Carlos Costa, que em apenas três meses de mandato - iniciou funções em outubro passado - já ajudou dois alunos a aceder ao fundo de emergência, criado durante na última crise económica mundial (2008/2009).

“Por vezes há atrasos nas remessas e quando há atrasos não há mais meios de subsistência e as pessoas ficam sem dinheiro até para pagar o alojamento e as refeições. Ficam sem nada”, conta, referindo que nesses casos encaminha os estudantes para o “fundo de emergência” da Universidade do Porto, cujo objetivo é servir casos emergentes para evitar que haja abandono dos estudos.

A perda de bolsa dos estudantes portugueses também ocorre muitas vezes quando um estudante arranja um trabalho a meio tempo e, depois, acontece uma mudança no escalão de IRS e basta isso para a família perder a ajuda monetária dum ano para outro, ficando sem capacidade para pagar os estudos.

Nos casos emergentes, o provedor aconselha o estudante a recorrer a esse fundo de emergência e depois contacta quem gere o fundo no sentido de apreciar o caso”, diz, referindo, todavia, que a atribuição de ajuda do fundo de emergência é decidida pela administração da universidade.

No gabinete do provedor ajuda-se também os estudantes a fazer as diversas interpretações dos normativos legais, assim como a formular novos planos de estudo adaptados às regras europeias relacionadas com o Processo de Bolonha, modelo de ensino superior que entrou em vigor em 2006. Atualmente os estudantes estão a fazer 60 ‘European Credit Transform System (ECTS) por ano, o que corresponde a 40 horas semanais de trabalho ou 1.600 horas por ano.