Quatro investigadoras portuguesas criaram um instrumento que avalia o desenvolvimento linguístico das crianças antes de entrarem para a escola e que é capaz de detetar problemas que, normalmente, afetam o sucesso escolar dos alunos.

 

Cerca de 10% das crianças que chegam ao 1.º ciclo têm problemas de linguagem que nunca foram diagnosticados, lembrou hoje Marisa Lousada, uma das investigadoras que na última década se dedicou a criar um instrumento capaz de identificar problemas de semântica, morfossintaxe e fonologia em crianças entre os três e os seis anos de idade.

 

As investigadoras da Universidade de Aveiro (UA) e do Instituto Politécnico de Setúbal (IPS) apresentaram hoje o Teste de Linguagem – Avaliação de Linguagem Pré-Escolar (ALPE): um instrumento que avalia as competências linguísticas das crianças através de um livro de imagens, uma coleção de objetos e um manual de instruções.

 

Estes materiais estimulam as respostas das crianças segundo as indicações do terapeuta, explicou Marisa Lousada, professora na Escola Superior de Saúde da UA e investigadora no Instituto de Engenharia Eletrónica e Telemática de Aveiro (IEETA).

 

Através do teste, “o terapeuta da fala pode avaliar nas crianças a forma como constroem frases, o tipo e a riqueza do vocabulário que utilizam e a compreensão que têm ou não sobre a linguagem”, contou, lembrando a importância de fazer o despiste.

 

“Quanto mais cedo se identificarem as crianças com problemas, mais cedo podem começar a ser tratadas de forma a que, quando ingressarem na escola, já estejam a ser acompanhadas”, acrescentou Ana Mendes, outra das autoras do teste, investigadora no IEETA e docente no IPS.

 

Ana Mendes lembrou que “muitas vezes, os terapeutas da fala, como não têm estes instrumentos aferidos, usam o seu próprio instrumento criado por eles ou traduzido de outras línguas” devido ao escasso número de instrumentos aferidos para o português europeu.

 

“Para o Português Europeu havia muito poucos instrumentos e a maior parte não permitia a avaliação da compreensão e da expressão, o que dificultava a avaliação dos critérios internacionais”, afirmou Marisa Lousada.

 

O trabalho desta equipa começou há dez anos e foi testado em 817 crianças de onze distritos e duas regiões autónomas. Estas crianças, com um desenvolvimento normal, serviram para construir a base de dados normativos. O Teste ALPE permite agora perceber se as crianças estão dentro dos parâmetros linguísticos considerados normais para as suas idades.

 

Para além de Marisa Lousada e Ana Mendes, o TL-ALPE tem a assinatura das docentes Fátima Andrade, docente no Departamento de Educação da UA, e de Elisabete Afonso, antiga docente da UA, professora no ensino secundário. O instrumento que agora será colocado no mercado foi desenvolvido no âmbito de dois projetos de investigação financiados pela Fundação Calouste Gulbenkian, pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia e pelo Ministério da Educação e Ciência.

 

Lusa