Segundo o documento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que se centra em alunos com 15 anos de idade, “os pais continuam a ter diferentes expectativas para filhos e filhas” em relação à profissão que esperam que eles venham a ter.

“Isto pode ser explicado pelos preconceitos que os pais ainda alimentam em relação àquilo em que homens e mulheres se destacam e à carreira que podem seguir quando entram no mercado de trabalho – o que, por outro lado, está relacionado com a segregação ocupacional do mercado de trabalho”, lê-se no relatório.

A OCDE recorda que Portugal foi um dos países nos quais foi pedido aos pais, aquando dos testes PISA de 2012 (testes que avaliam o progresso dos alunos em áreas como leitura, ciência e matemática), que respondessem a um inquérito sobre as suas expectativas relativamente ao futuro dos filhos, indicando, por exemplo, qual a profissão que esperavam que o seu filho de 15 anos tivesse aos 30 anos.

Em relação aos alunos inquiridos 50% dos rapazes têm pais que esperam que sigam profissões ligadas à ciência, tecnologia, engenharia e matemática, enquanto essa percentagem desce para 20% em relação às raparigas.

Os resultados do inquérito também demonstram que as expectativas variam consoante o ambiente socioeconómico da família: as famílias de maiores recursos tendem a preferir que os filhos e filhas sigam profissões de áreas científicas ou tecnológicas.

Mais meninas a querer a área da Saúde

Ainda que tenha por base dados de 2006, a OCDE refere também que em Portugal são as raparigas que mais ambicionam trabalhar na área da saúde: quase 25% das adolescentes afirmam querer seguir uma carreira nesta área, contra menos de 10% dos rapazes, com uma diferença percentual entre géneros de 17%.

Em 2012, segundo dados da OCDE, era uma minoria a percentagem de mulheres com grau académico em áreas como a engenharia, a construção ou a computação.

Portugal é apontado como um dos raros casos – a par de República Checa, Alemanha, Eslováquia e Suíça - em que a proporção de mulheres em áreas científicas, de um modo geral, aumentou pelo menos 10 pontos percentuais entre 2000 e 2012, estando agora mais próximo da média da OCDE.

Portugal está também ainda no lote de países onde 60% dos alunos afirmam querer trabalhar nas áreas do Direito, ou ser quadros superiores ou gestores, enquanto em países como a Alemanha, a Áustria ou a Suíça, onde a formação de quadros intermédios através de sistemas de ensino vocacional está bem enraizada, as expectativas de vir a ter uma carreira de maior reconhecimento social se fixam nos 40%.

A OCDE aponta ainda que há diferenças nos resultados entre rapazes e raparigas, sobretudo no desempenho na resolução de problemas matemáticos, que se explicam pela falta de autoconfiança delas.

No relatório sugere-se como estratégias para reduzir as diferenças de género na educação que os pais “deem igual apoio e incentivo” a filhos e filhas em todas as matérias e ambições, e que os professores adquiram uma maior consciência de que os seus preconceitos de género podem afetar a forma como avaliam os alunos.

Os professores podem ainda ajudar ao serem mais exigentes, uma vez que os alunos, sobretudo as raparigas, “tendem a ter um melhor desempenho em matemática quando os seus professores lhes pedem para tentar resolver problemas de forma independente”.

A OCDE conclui, com base nos resultados dos testes PISA, que as diferenças de género nos resultados escolares “não são determinadas por diferenças inatas” ao nível das capacidades.