Os pais e educadores de 1.120 crianças e jovens em risco tiveram formação parental para tentar resolver problemas detetados pelos tribunais, através de um programa da Fundação Calouste Gulbenkian que durou três anos.
Entre 2008 e 2011, 1.068 pais ou cuidadores de jovens que os tribunais consideraram estar em situação de risco foram ajudados por técnicos de oito instituições para tentar superar as suas dificuldades.
“Quase todos os casos foram referenciados pela Comissão de Protecção de Menores. As principais queixas prendiam-se com histórias de negligência face aos filhos, dificuldades relacionadas com disciplina e abandono escolar”, explicou à Lusa o psiquiatra Daniel Sampaio, coordenador da equipa científica que acompanhou o trabalho das organizações.
As instituições trabalharam com “899 famílias com 1.120 crianças ou jovens” das zonas de Lisboa, Sintra, Setúbal e Amadora, explicou Luísa Vale, diretora do Programa Gulbenkian de Desenvolvimento Humano.
Entre casos graves de negligência e violência familiar, havia ainda histórias de famílias que não sabiam usar devidamente os espaços das suas casas, que desvalorizavam a importância de chegar a horas à escola ou de cumprir os horários de toma de um medicamento, exemplificou Luísa Vale.
Daniel Sampaio reconhece que as 899 famílias ajudadas representam “apenas uma pequena gota de água” no universo das famílias que necessitam de apoio. No entanto, sublinha Daniel Sampaio, seis das oito instituições que foram apoiadas continuaram o seu trabalho e o programa da Gulbenkian serviu também para chamar a atenção para a importância da formação parental. Além de acompanhar e ajudar a desbloquear problemas que surgiam às organizações que estavam no terreno, a equipa cientifica fez ainda “um levantamento do que correu bem e do que correu mal”, lembrou Luísa Vale.
As conclusões e recomendações estão resumidas no livro que será apresentado quinta-feira na Gulbenkian: “Crianças e Jovens em Risco - A Família no Centro da Intervenção”. Entre as principais conclusões, Daniel Sampaio salientou “a necessidade de um maior investimento na formação dos pais, a valorização do papel dos pais e a necessidade da progressiva responsabilização nas tarefas educativas”.
Atualmente, seis das oito instituições mantêm ações de formação parental, ainda que “mais direcionadas para determinados perfis e um número mais reduzido de famílias”. A Associação Arisco e Centro Dr. João dos Santos - Casa da Praia (em Lisboa); “Questão de Equilíbrio” - Associação de Educação e Inserção de Jovens e Fundação Portuguesa “A Comunidade contra a Sida” (Setúbal); Associação Pressley Ridge e Instituto das Comunidades Educativas (Amadora) e Associação Margens e Movimento de Defesa da Vida, em Sintra, foram as instituições envolvidas neste projeto.
Lusa
28 de setembro de 2011