A falta de tempo continua a ser um dos principais problemas dos pais. E o telefone o maior amigo para quebrar as barreiras físicas.

Francisco Mira, engenheiro em Lisboa e pai de três filhos, confessa que é ao fim de semana que equilibra as horas despendidas com as crianças. “Atualmente o tempo disponível durante a semana de trabalho é muito reduzido… Tento compensar durante o fim de semana para por a conversa em dia, mas acompanho regularmente o percurso escolar, muitas vezes por telefone”, explica.

Rita, Miguel e Carolina têm 22, 18 e 14 anos. “Colaborei sempre em todo o tipo de atividades desde o nascimento dos meus filhos – mudei fraldas, alimentei, dei banho, fui às consultas médicas, escola, trabalhos de casa e reuniões. Atualmente os cuidados são diferentes”, comenta Francisco Mira.

Com o crescimento, os problemas e os cuidados comutam e, apesar de raros, os castigos também fazem parte da família Mira. “Em ocasiões mais difíceis atrasamos a entrega da mesada”, por exemplo.

Os filhos mais novos, os mais sortudos

Por muito que a maioria dos pais insista que a educação dada aos vários filhos é sempre a mesma, as crias são todas diferentes e portanto o trato, no seu sentido lato, também muda, admitem os quatro pais entrevistados.

“Fui bastante mais permissivo com a filha mais nova mas também, sendo o terceiro filho, a educação foi mais facilitada, porque os mais velhos serviram de exemplo”, explica Francisco.

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Também André Monteiro, pai de sete filhos, confessa que a educação dada às crianças foi “evoluindo”. A educação não se tornou mais permissiva mas sim mais tolerante, devido à experiência acumulada. Por essa razão, “os tipos de castigos também mudaram, tornando-se mais adequados a cada situação”, explica.

“Quando existem atitudes incorretas ou comportamentos desviantes os filhos devem ser corrigidos, de acordo com a idade e natureza de cada um”, desenvolve este pai. “Isto poderá ir de uma simples palmada no rabo aos mais pequenos, à proibição de ver televisão e estar no computador ou a realização de tarefas domésticas acrescidas”, exemplifica.

André Monteiro é gestor em Lisboa e vive em Carcavelos. Considera-se um bom pai. “Porque amo a minha esposa, os meus filhos e estou disposto a dar a minha vida por eles”.

Gozou sempre do tempo de licença de paternidade previsto na lei. “Nos primeiros filhos, foram apenas cinco dias úteis após o nascimento, mais 10 dias úteis durante a licença da mãe. Nos dois últimos filhos, a lei passou a prever 10 dias úteis após o nascimento e 10 dias úteis durante a licença da mãe, para além do sexto mês após a licença da mãe”, adianta.

“Foram períodos importantíssimos para criar os laços afetivos que um pai deve ter com os filhos. Sobretudo a possibilidade de gozo do sexto mês de licença marcou uma diferença significativa na minha relação com as crianças”, relembra.

Maria Leonor é a filha mais velha de André Monteiro. Tem quase 16 anos. António Maria é o mais novo, tem dois meses. Pelo meio, nasceram outros cinco filhos: Pedro Maria (14 anos), Mariana (12 anos), João Maria (11 anos), Sara Maria (7 anos) e Maria Inês (5 anos). “Dedico-lhes pelo menos três horas todos os dias e cerca de 12 horas ao sábado e domingo”, diz. As tarefas de pai e mãe, nesta família, são praticamente as mesmas. André também muda fraldas, alimenta e dá banho às crianças. Quando é preciso, fica em casa se os filhos estão doentes.

“Vou levá-los e buscá-los às atividades desportivas de cada um - futebol, natação, rugby, voleibol, canoagem, assim como à catequese e à missa”, relata. Mas admite: apesar de ser um pai presente, “é mais a mãe quem dedica uma maior fatia de tempo a estas atividades”.

Marco Serra, 37 anos, programador, pai de três filhos. Vivem todos em Alcanena. Trabalha das nove as dezoito. Mas é pai 24 horas. “Posso afirmar sem rodeios que praticamente todo o tempo livre que tenho, tirando raras exceções, é dedicado à minha família, filhos e esposa”, comenta.

“Ao termos feito a opção de ser pais por três vezes sabíamos à partida que seria assim”, vaticina.

Em casa, os pais de Afonso (10 anos), Inês (oito) e Leonor (cinco) partilham todas as tarefas domésticas e pedem ajuda aos mais novos. Entre mudar fraldas, preparar e dar as refeições, dar banho, acompanhar nos trabalhos de casa, ir levar e buscar à escola, ir às reuniões de pais, Marco e a esposa dividem-se. “Tudo aquilo que é necessário fazer faço-o com todo o prazer”, descreve.

Castigos com efeitos práticos

Também para este pai os castigos, apesar de incomuns, são úteis em determinadas situações. “Neste segundo período, o rendimento escolar do meu filho mais velho na disciplina de matemática esteve muito aquém. Decidimos castigá-lo com a proibição temporária da ida aos treinos e jogos de futebol, que é uma das coisas que ele mais gosta. O Afonso compreendeu a mensagem. De 48% no primeiro teste, passou para 80% no segundo. É óbvio que o castigo foi depois levantado”, refere.

Marco Serra não gosta de fazer autoavaliações. Mas acredita que é um pai ativo. “Dos meus dois primeiros filhos, gozei a licença exclusiva do pai. No caso da mais nova, para além da licença exclusiva do pai, gozei ainda da licença partilhada com a minha esposa, em que ela usufruiu de quatro meses de licença e eu de dois”.

“No caso da mais nova, tive a oportunidade de ser o seu principal cuidador entre os quatro e seis meses, no período imediatamente antes de ela ir para a creche. Foi uma experiência fantástica, porque para além de a acompanhar a ela, tive mais tempo para os meus filhos mais velhos, tendo sentido efetivamente um estreitar de laços”, assevera. “É uma experiencia que recomendo a todos os pais”, diz o programador.

Preconceito nas licenças de paternidade

Marco Serra não se arrepende de ter preterido do trabalho para passar dois meses em casa ao lado dos filhos, enquanto os ajudou e viu crescer, mas admite que foi alvo de assédio. “Na empresa onde trabalhava na altura, mandaram algumas ‘bocas’ para o ar. Por exemplo, perguntaram-me se eu ia mesmo gozar a licença de amamentação”, lamenta.

“As crianças precisam de pais presentes e ativos, pais que, por exemplo, em vez de irem sempre para os cafés com os amigos, tenham a disponibilidade de dar tempo aos seus filhos, de estarem presentes no dia a dia, não só nos momentos bons, também nos momentos maus em que é preciso dizer que não”, avalia Marco Serra.

João Garcia, 44 anos, é pai de três filhos, com 17, 12 e 4 anos. É vigilante e trabalha por turnos. Mas nem por isso se escusa das suas funções de pai.

Desdobra-se em planos para visitar os filhos. Embora no início tenha sido mais difícil por questões laborais estar sempre presente no crescimento dos filhos mais velhos, hoje vive uma situação mais “tranquila”. Quando, por exemplo, o expediente só termina ao nascer do dia, ainda passa pela cresce para visitar os filhos.

Pai exemplar, diz viver uma paternidade “cheia de amor”. Partilhou sempre de todas as tarefas domésticas em casa. “Fiz e faço-as, aliás é esse o papel de um pai em sintonia com a mãe”, remata.

Quando se portam mal, castiga-os? “Claro, sempre que necessário. Quem dá o pão dá a educação”, cita o ditado popular. “Castigar, ainda que levemente com a palavra ‘não’ é também uma forma de amar”.