A felicidade é um conceito muito amplo e abstrato, mas ao mesmo tempo essencial para o desenvolvimento pessoal de cada indivíduo. Neste sentido, muitos autores em várias épocas e contextos refletiram sobre a importância deste aspeto das nossas vidas. Em alguns casos, apontaram a felicidade como aquilo para o qual o ser humano deve tender, uns abordando-a como fim, outros entendendo-a como meio. Em qualquer caso, todos coincidem que a felicidade é muito importante para a construção da pessoa. Precisamente por este motivo, a felicidade adquire um papel especialmente relevante durante a infância.

Qual é o papel dos pais em tudo isto? Que linhas se estão a seguir para contribuir para a felicidade dos mais pequenos? Qual é o papel da brincadeira real na construção da felicidade na infância? A influência do ambiente completo sobre as crianças assim como a resposta destas perante as situações que vivem diariamente foram o objeto do estudo "Felicidade e Infância", elaborado pela Imaginarium e que foi apresentado hoje num evento em Lisboa.

O estudo concluiu que 80,4% dos pais portugueses mostra-se muito preocupado pelo futuro da felicidade dos seus filhos. Que os pais queiram a felicidade dos seus filhos é natural, como é natural que queiram que os seus filhos tenham sucesso, não fiquem doentes e comam adequadamente. Para 18,4% dos pais portugueses, a felicidade dos seus filhos preocupa-os “bastante”.

Apenas 0,1% dos pais portugueses acredita que no dia-a-dia os seus filhos não são felizes. De acordo com o estudo, mais de metade das crianças portuguesas são, na opinião dos seus pais “muito felizes” (51,6%). No entanto, 8,8% considera que os seus filhos oscilam entre a felicidade e a tristeza.

A percentagem de infelicidade aumenta com a idade
De acordo com os seus pais, 15,25% das crianças entre os 7 e os 8 anos nem sempre são felizes, descendo para os 13,29% na faixa etária dos 5-6 anos e fixa-se em apenas 6,4% de crianças infelizes entre os 0 e 2 anos.

O aumento progressivo da infelicidade à medida que crescem é explicável, segundo Rui Lima, membro do Painel de Especialistas da Imaginarium: “A crescente pressão imposta às crianças e jovens, tanto por pais como por professores, onde o desempenho académico, a competição entre pares e a necessidade de alcançar a perfeição em todas as atividades realizadas são uma constante, tem, certamente, um impacte negativo na felicidade das crianças. Apesar do estudo revelar que um dos fatores de felicidade nas crianças é o alcance de objetivos e superação de desafios, é importante refletirmos acerca do grau de exigência que impomos aos alunos e as expectativas que, muitas vezes, colocamos sobre si.”

Os principais motivos de infelicidade para as crianças portuguesas, são, de acordo com os progenitores, não passar tempo suficiente com os pais (26,3%), não ter tempo suficiente para brincar (21,37%) ou ficar de castigo (16,45%).

O contributo dos pais para a felicidade dos filhos
Apenas 11,5% dos pais portugueses dedica tempo a transmitir aos seus filhos valores que farão deles adultos felizes. No entanto, 82,23% admite que existe uma relação direta entre responsabilidade e felicidade, e que são esses valores positivos que ajudarão as crianças a ser felizes no futuro. Apesar deste contraste, 26,39% dos pais considera que sem aprenderem a importância da superação e do esforço, dificilmente os seus filhos serão felizes no futuro.

Para os pais portugueses, o principal contributo para a felicidade dos seus filhos é mesmo o afeto: 33% afirma que é “fazendo os seus filhos sentirem-se ouvidos e queridos” que mais contribuem para a sua felicidade. 28% dos pais acredita que passar mais tempo com os seus filhos é um contributo importante para a sua felicidade, e 14% afirma que é fundamental reforçar a autoestima da criança, “elogiando-o e incentivando-o quando faz as coisas bem”.

Depois dos valores positivos, os aspetos mais importantes para a construção da felicidade futura das crianças são, para os pais portugueses, a relevância dos valores da amizade, das relações sociais e familiares (76%) e o incentivo de um estilo de vida saudável (natureza, desporto), uma das chaves da felicidade para 41% dos pais.

E as crianças, sabem manifestar a sua felicidade?

Dois terços dos pais portugueses (60,4%) acredita que os seus filhos têm problemas em manifestar a sua felicidade, apesar de terem a consciência de que são felizes.

Apenas 22% afirma que os seus filhos são felizes e capazes de exprimir essa felicidade, valorizando-a e mostrando-se agradecidos. Para 6,4% dos pais, as crianças não são conscientes da sua felicidade nem o manifestam.

Sonia Pérez, membro do Painel de Especialistas da Imaginarium, comenta: “É fundamental que as crianças aprendam a identificar e a exprimir as suas opiniões. Isto pode conseguir-se através da brincadeira real, e também através de uma socialização correta que dê às crianças uma maior sensação de felicidade e bem-estar”.

Os pais portugueses acreditam que os seus filhos serão mais felizes se se desenvolverem num ambiente familiar e escolar saudável onde se sintam valorizados e queridos (45,29%), se passarem mais tempo com os pais (34,83%) e se explorarem o mundo através da brincadeira real (17,06%).

O papel da família e dos brinquedos

De acordo com o estudo, as crianças portuguesas são extremamente familiares. Fazer planos em família fora de casa (como andar de bicicleta ou ir ao cinema) é aquilo que faz as crianças mais felizes, para 45% dos pais. Logo a seguir, a opção mais popular é “passar tempo sozinhos com os pais” (20,23% das respostas), sendo que brincar com os amigos aparece em terceiro lugar na lista de atividades que mais felizes fazem as crianças, com 17,77% das respostas.

Em relação aos brinquedos que provocam mais felicidade nas crianças portuguesas, 38,08% dos inquiridos opinam que as bicicletas e os veículos com rodas em geral são os preferidos. No topo das preferências estão também os brinquedos relacionados com a música, a arte e os trabalhos manuais (35,2%), os jogos de lógica e construção (30,8%), e os brinquedos de faz-de-conta (como as cozinhas ou profissões, com 30,61%). Apenas 19% dos pais menciona os ecrãs e tablets como o tipo de jogo que mais faz feliz as crianças.

Segundo o professor e pedagogo Rui Lima “Os brinquedos devem apelar ao desenvolvimento de diferentes competências, tanto a nível físico como intelectual. Desenvolvendo essas competências, a crianças será capaz de relacionar melhor consigo mesma, com os outros e com o mundo. Daí a importância de brinquedos que estimulem os sentidos nos primeiros anos de vida”.