“Os pais sentiram isso com enorme preocupação e angústia, nomeadamente os mais afetados pela situação”, disse à agência Lusa o presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (CONFAP), Jorge Ascensão, ao falar dos sucessivos atrasos na colocação de professores que ensombraram o arranque do ano letivo.

Os pais não entendem como ao fim de tantos anos ainda não foi possível encontrar uma forma estável de colocar os professores para que todos os alunos tenham os respetivos docentes quando começam as aulas, em setembro.

À crónica falta de funcionários nas escolas, juntou-se este ano o problema dos professores de uma forma mais grave do que em anos anteriores, devido a uma nova forma de colocação dos docentes contratados, a Bolsa de Contratação de Escola (BCE).

“Ao tentar-se um novo método de colocação que não correu muito bem, o problema teve uma dimensão maior, um impacto mais generalizado e mais sentido e portanto o que nos fica é esta angústia de, ano após ano, não sermos capazes de iniciar a atividade letiva e todo o processo educativo na escola pública com normalidade, com regularidade”, afirma Jorge Ascensão.

A ideia era colocar os professores de uma forma mais célebre, mas erros associados a esta plataforma levaram à anulação do primeiro concurso e a um pedido de desculpas do ministro, Nuno Crato, no parlamento, que no mesmo dia viu o diretor-geral da Administração Escolar, Mário Agostinho Pereira, apresentar a demissão.

Crato teve ainda de lidar com a saída do secretário de Estado do Ensino Básico e Secundário que pediu a demissão depois de notícias sobre trabalhos académicos alegadamente plagiados por João Grancho num seminário.

As dificuldades continuaram, até que o Ministério da Educação decidiu passar a responsabilidade do processo de contratação para as escolas, mas também estas se viram a braços com problemas de atualização das listas dos docentes candidatos, com os próprios contactos e confirmações de dados, já que em teoria o sistema permitia que todos os professores concorressem a todas as escolas abrangidas pela BCE (cerca de 300).

“Qualquer projeto que se inicia tem o seu devido planeamento. Na educação tem sido difícil iniciar o ano normalmente. Há um conjunto de interesses paralelos que rodeiam a educação e que pouco têm a ver com o superior interesse das crianças e dos jovens e que muitas vezes conflituam e geram todos estes problemas no início do ano letivo”, afirmou.

Esses interesses, segundo Jorge Ascensão, são de ordem laboral, político partidária e económica, ou seja, “tudo aquilo que é contrário ao princípio de uma educação global e inclusiva” para todos.

“Devemos pensar seriamente no que estamos a fazer, se queremos garantir o nosso futuro enquanto sociedade”, declarou o líder da CONFAP.

Mesmo agora, a situação está longe de estar normalizada. Jorge Ascensão diz mesmo que o atraso pode levar dois a três anos a recuperar, já que as escolas se veem “na contingência de escolher os alunos” que têm aulas de compensação, optando por apostar nos anos em que há exames (4.º, 6.º, 9º e secundário).

O final do ano na área da Educação termina com uma greve marcada para 19 de dezembro, dia da prova de avaliação imposta aos docentes contratados com menos de cinco anos de serviço que pretendam concorrer a um lugar para dar aulas.