A taxa de mortalidade infantil (até um ano de idade) voltou a ter um aumento ligeiro no ano passado face a 2011, tendo passado de 3,1 para 3,4 por mil nados-vivos, revelam os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística. Cerca de dois terços destes óbitos aconteceram até aos 28 dias de vida, sendo a prematuridade uma das causas.

 

Paulo Nogueira, chefe de Divisão de Estatísticas de Saúde da Direcção-Geral da Saúde (DGS), e um dos autores de um estudo recente sobre a evolução da mortalidade infantil, nota que «em termos absolutos a diferença é de apenas uma morte, só que, com a diminuição do número de nascimentos em Portugal, faz-se sentir com mais evidência».

 

Assim, enquanto em 2011 tinham morrido 302 crianças até um ano (num total de 96.856 nados-vivos), no ano passado foram 303 em 89.841 nados-vivos, «o que teve logo reflexos na taxa de mortalidade infantil, que voltou aos níveis de 2008 e 2009», nota.

 

Paulo Nogueira refere que Portugal continua a encontrar-se, ao nível da mortalidade infantil, «num patamar excelente a nível mundial do qual é difícil descer». As melhorias têm de ser encontradas no grosso das mortes nestas idades, na chamada mortalidade neonatal (até aos 28 dias). Das 303 mortes infantis ocorridas no ano passado, 199 foram de até aos 28 dias. O peso da mortalidade neonatal tem-se mantido nos últimos anos em cerca de dois terços do total, diz o especialista.

 

O especialista da DGS lembra que «existem atualmente capacidades técnicas para fazer nascimentos de baixo peso», neste caso está-se a falar de bebés que podem ter de 500 a 600 gramas, mas nestes apenas cerca de 50 por cento irão sobreviver, diz.

 

O problema já tinha sido detetado no estudo comparativo do número de óbitos e causas de morte da mortalidade infantil e suas componentes (2009-2011), de que Paulo Nogueira é um dos autores.

 

Nas conclusões deste trabalho, recomendava-se «a definição de estratégias para a melhoria da mortalidade neonatal, tendo em atenção as questões da prematuridade, do baixo peso e da gemelaridade». Na análise das mortes neonatais de 2011, constatou-se que 188 foram partos simples, mas 43 foram partos de gémeos.

 

O encontro de hoje é a primeira reunião do Grupo Querer Crescer, composto por profissionais de saúde, membros de associações de pais e políticos, criado com o objetivo de garantir os melhores cuidados de saúde para os bebés prematuros. Em Portugal, nove em cada 100 bebés nascem antes das 37 semanas de gestação.

 

Subordinada ao tema Nascer em Portugal, que futuro?, a reunião foca-se na prematuridade e na mortalidade infantil. Hercília Guimarães, neonatologista do Centro Hospitalar de São João, no Porto, e presidente do Querer Crescer, citada pelo comunicado do grupo, diz que um dos problemas é «a lacuna, também a nível europeu, relativa aos dados referentes aos custos de internamento de um bebé prematuro e dos bebés com sequelas».

 

 

Maria João Pratt