No relatório sobre o "Estado da População Mundial", divulgado esta quinta-feira (20/10), o Fundo das Nações Unidas para a População conclui que atualmente existem 125 milhões de crianças de 10 anos no mundo, das quais 60 milhões são meninas, que estão "sistematicamente em desvantagem" face os rapazes: têm menos probabilidade de acabar a escolaridade e mais probabilidade de serem forçadas a casar e a trabalhar e a serem sujeitas a outras práticas nefastas, como a mutilação genital feminina.

Mais de metade destes 60 milhões de meninas vive nos 48 países com piores indicadores na igualdade de género; nove em cada dez vivem em países em desenvolvimento e uma em cada cinco vive num dos países menos desenvolvidos.

Menos acesso à escola

Atualmente, 16 milhões entre os 6 e os 11 anos nunca chegam a começar a escola, o dobro da proporção de rapazes. No entanto, o seu potencial é maior do que o dos rapazes: cada ano de ensino que uma rapariga tem reflete-se num aumento de 11,7% no seu salário futuro (nos rapazes o aumento é de 9,6%). Se todas as raparigas de 10 anos atualmente fora do ensino nos países em desenvolvimento concluíssem o ensino secundário, teriam um dividendo anual de 21 mil milhões de dólares.

Veja aindaPaíses onde se pratica Mutilação Genital Feminina

Leia aindaO que é e como é feita a mutilação genital feminina?

Pelo contrário, escrevem os autores do relatório, se as meninas de 10 anos de hoje forem impedidas de atingir o seu potencial e de contribuir para o progresso económico e social das suas comunidades, os objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS), definidos no ano passado pela ONU para 2030, não serão alcançados. "Em muitos sentidos, a trajetória de vida das meninas de 10 anos será o verdadeiro teste sobre se a agenda 2030 será um sucesso ou um falhanço", escreve o diretor-executivo do UNFPA, Babatunde Osotimehin, no prefácio do relatório.

O também vice-secretário-geral da ONU sublinha ainda: "Sempre que o potencial de uma menina não se realiza, perdemos todos. Pelo contrário, quando uma menina consegue exercer os seus direitos, é saudável, completa o ensino e toma decisões sobre a sua própria vida, ela - e toda a gente à sua volta - ganha".

Depois dos 10 anos

"Quando uma menina faz 10 anos, o seu mundo muda", escreve o diretor-geral. Em algumas partes do mundo, a aproximação da adolescência é um abrir de possibilidades, mas noutras, uma rapariga na puberdade passa a ser vista como um bem, que pode ser vendido ou trocado. Pode ser forçada a casar, retirada da escola e obrigada a ter filhos e a começar uma vida de servidão.

O relatório reconhece que as perspetivas para uma menina de 10 anos são hoje melhores do que há uma geração, mas as melhorias têm sido desiguais, tanto entre países como dentro dos países. Com efeito, as diferenças dentro dos países podem até ser maiores do que entre países.

Atualmente, 10% das meninas dos 5 aos 14 anos fazem mais de 28 horas de trabalhos domésticos por semana, o dobro dos rapazes.

Três em cada quatro meninas que trabalham não são pagas.

Estima-se que todos os dias haja 47.700 raparigas em risco de casar antes dos 18.

Para contrariar estes números, a ONU propõe dez ações que passam por legislação para estipular a igualdade de género ou para banir práticas ilegais e proibir o casamento antes dos 18 anos, mas também pela promoção de uma educação de qualidade, serviço de saúde universal e educação sexual a partir da puberdade, entre outras.