“Há na sociedade em geral ainda preconceitos. Mas há preconceitos em relação a tanta coisa e nas relações pessoais. O mais difícil é aceitar as diferenças dos outros”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, relativizando queixas de alguns dos estudantes, que admitiram mesmo que preferiam ocultar as suas origens para não serem marginalizados.

Os jovens fazem todos parte do Programa Operacional para a Promoção da Educação (OPRE), desenvolvido pela Programa Escolhas, Associação Letras Nómadas e REDE de Jovens para a Igualdade e que é dirigido a estudantes do ensino superior provenientes de comunidades ciganas. O OPRE apoia com uma bolsa esses estudantes e em Belém estiveram 26 dos 32 estudantes atualmente apoiados.

No encontro foi salientada a importância do OPRE para a inclusão dos jovens ciganos e da integração das comunidades ciganas pela Educação. E os jovens falaram da dificuldade que representa a entrada para o ensino superior de membros de etnia cigana, especialmente as mulheres, mas também de dificuldades de integração.

No primeiro ano, “quando os meus colegas de turma souberam que era cigano, tinha dificuldade em fazer trabalhos de grupo”, este ano “decidi não dizer aos meus colegas que era cigano”, contou o estudante Almerindo Lima, acrescentando que os companheiros se afastaram “um pouco”. “Não sei se é discriminação, se é desconhecimento. A escola hoje não é multicultural, não está preparada para receber minorias étnicas”, declarou.

Chegada dos jovens ao ensino superior

Se do grupo apenas um disse que foi muito bem recebido e acarinhado, outros falaram de ciganos “que ocultam a etnia para não terem dificuldades nos postos de trabalho”. Mas falaram também da grande mudança dentro da etnia que representa a chegada dos jovens ao ensino superior, algo impensável até há poucos anos.

“Os ciganos foram mais resistentes à mudança do que a sociedade maioritária”, disse Cátia Montes, uma cigana que “resiste à assimilação”, que sente que a aceitam melhor se for cigana “só de nome” e que quer continuar a se cigana “mas outras coisas também”.

Lamentos à parte foi o elogio ao OPRE que gerou consenso, um programa que permite que sejam ciganos mas também estudar e concretizar sonhos, como disse Francisco Azul. Ou Teresa Vieira, que nunca pensou um dia chegar à universidade e que se diz primeiro cigana e depois portuguesa.

Olga Mariano, da Associação Letras Nómadas, disse, ao contrário: “antes de ser cigana eu sou portuguesa e como tal tenho todo os direitos que os outros têm e sem o empoderamento que nos dá o ensino não vamos a lado nenhum. Somos ciganos, com tudo o que isso implica, mas não estamos numa ilha”.

O Presidente ouviu e disse depois que há na sociedade portuguesa muitas diferenças, que a tragédia dos incêndios deste ano mostrou vários países dentro de Portugal e falou da evolução social e de mentalidades, especialmente após o 25 de abril.

Marcelo Rebelo de Sousa falou ainda das crises económicas que tornam as sociedades menos tolerantes, dos fenómenos de xenofobia a nível internacional, da “luta pela igualdade, solidariedade e inclusão” que é constante, concluindo que “não se podem generalizar juízos em relação a certas comunidades”, como não se pode “generalizar a intolerância”. “Eu não generalizaria”, vincou.