Há casos em que um jovem chega a fugir da instituição 20 vezes num ano, engrossando a lista do número de crianças desaparecidas da Polícia Judiciária (PJ), que assinalou, em 2015, cerca de 1.600 casos, um número que não varia muito de ano para ano. A falta de conhecimento de muitos pais acerca da vida do filho que fugiu de casa é um dos entraves à investigação.

Esta situação foi relatada pelos inspetores Fernando Santos e Sandra Ramos em entrevista à agência Lusa, a propósito do Dia Internacional da Criança Desaparecida, que se assinala na quarta-feira.

Os inspetores da Unidade de Informação e Investigação Criminal da PJ explicaram que os desaparecimentos não podem ser confundidos com sequestros ou raptos e que a taxa de recuperação das crianças desaparecidas é de quase 100%.

As situações que continuam por resolver vêm de há muitos anos, como é o caso do Rui Pedro, que desapareceu em 1998 em Lousada, e de Madeleine McCann, que está dada como desaparecida desde 2007.

Contudo, estas situações não podem ser dadas como desaparecimentos porque estão associadas a uma situação de crime, adiantou Fernando Santos.

O inspetor explicou que casos de rapto ou outras situações que constituam crime são investigados num processo autónomo, deixando de constar como desaparecimento.

Como “eventuais casos de crianças desaparecidas” que podem não ser localizadas pelas autoridades, Fernando Santos apontou situações pontuais de jovens refugiados que fugiram do lar que os acolhia. “São crianças que chegam a Portugal, no âmbito do asilo, têm 16 anos tecnicamente falando, mas não têm documentação a comprovar a sua idade. Estão no lar durante um tempo e depois desaparecem”, frisou.

Segundo o inspetor, o trabalho da PJ nesta área é de prevenção, porque a pessoa que está desaparecida pode estar “numa situação de vulnerabilidade, pela idade, pelo estado físico ou mental ou por outra situação qualquer”.

“O nosso dever de ocorrer a estas situações sociais é perceber o que se passa com a pessoa que alegadamente está desaparecida”, sublinhou.

Os dados da PJ indicam que 5% das situações de desaparecimento referem-se a menores de 12 anos e estão relacionadas com rapto parental.

”Muitas vezes quem está a participar não sabe onde estão as crianças fisicamente, mas sabem com quem estão”, disse Fernando Santos.

As restantes situações referem-se a jovens entre os 12 e os 18 anos e englobam duas realidades: As crianças institucionalizadas, que representam o maior número de desaparecimentos, e as que estão em ambiente familiar.

“Qualquer falha da criança que está institucionalizada, em termo de horário”, é comunicada às autoridades policiais como um desaparecimento”, o que faz aumentar o número de casos sinalizados.

Perante esta realidade, o inspetor sublinhou que é preciso ter cuidado quando se olha para o número de crianças desaparecidas.

“Efetivamente há crianças desaparecidas, alarmante, não poderemos considerá-lo”, sublinhou.

A inspetora Sandra Ramos adiantou que, da instituição, fogem mais rapazes, e de casa, as raparigas. "A sexta-feira é o dia que ocorre mais desaparecimentos”, assim como nos finais dos períodos letivos.

O principal motivo que leva os jovens a fugir de casa é o “conflito geracional entre pais e filhos”, disse Sandra Ramos.

Há ainda “uma ou duas situações” relacionados com a internet, mas “não é alarmante”, disse Sandra Ramos.

“Há casos em que os jovens conhecem, através das redes sociais, indivíduos que dizem ter a idade deles e são pessoas adultas, mas são muito poucas estas situações”, disse a inspetora.

Fernando Santos explicou que estes casos são investigados em processos autónomos e dão origem a um processo-crime.