De mangas arregaçadas e de enxadas nas mãos, os participantes, entre 18 e 35 anos e com diferentes necessidades especiais, como síndrome de Down, paralisia cerebral ou atrasos cognitivos, aprendem a trabalhar na área da agricultura e jardinagem, através de uma formação certificada pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP), nos terrenos agrícolas do Instituto Superior de Agronomia, na Tapada da Ajuda.

Organizado pelo Banco de Informação de Pais para Pais (BIPP) – Inclusão para a Deficiência, o SEMEAR “surgiu pela escassez de respostas que existem para jovens a partir dos 18 anos com necessidades especiais, que não encontram soluções para a sua vida em termos de atividade e sobretudo profissionalizantes”, disse à Lusa a coordenadora do projeto e presidente do BIPP, Joana Santiago.

Antes de frequentarem a iniciativa do SEMEAR, os formandos encontravam-se desempregados, referiu a responsável, considerando que “a sociedade ainda não está sensibilizada para as excelentes capacidades que estas pessoas têm, […] que às vezes até podem ter um menor fator de produção, mas que são excelentes trabalhadores”.

“Estamos a capacitá-los a nível pessoal, social e profissional para depois integrarem o mercado de trabalho com uma profissão”, explicou Joana Santiago, referindo que o objetivo é formar 75 pessoas em três anos.

Ana Filipa Pinto, de 19 anos, “estava em casa sem fazer nada” antes de começar a formação e agora trabalha com apreço o talhão de couves que plantou. De sorriso rasgado, sonha com o futuro.

“Aprender até ao fim e ter um objetivo, ter um dia o meu futuro, ter a minha casa, os meus filhos, o meu marido” são os planos de vida traçados pela jovem, que disse ainda que na formação lhe dá oportunidade de conviver.

Com gosto pelo trabalho agrícola, Rui Afonso, de 34 anos, diz já ter aprendido a semear desde salsa, coentros, orégãos a tomilho e a plantar couves, alhos e favas.

“Isto está difícil de emprego, depois chegou este curso e agarrei”, contou o formando, desejando no futuro seguir a área da agricultura.

A acompanhar os trabalhos, a técnica superior de reabilitação psicomotora Catarina Bento explicou que o percurso de formação “é muito diferenciado e muito adequado às capacidades de cada um dos formandos”, conforme as limitações motoras ou de défice cognitivo que possuem, tornando-os “mais autónomos e mais funcionais na sociedade”.

Os 25 elementos desde primeiro grupo “têm revelado imensas capacidades em várias áreas específicas, portanto altamente capazes de terem um emprego e de ficarem a trabalhar com autonomia”, considerou a técnica de reabilitação psicomotora.

Responsável por ensinar a componente prática e teórica da formação, Fernando Quintela frisou que os participantes se identificam bastante com a agricultura, sentindo-se estimulados e com vontade de “plantar, semear, ver as plantas crescerem, cuidar delas”.

Com uma produção diversificada de hortaliças e ervas aromáticas, a colheita destes produtos será comercializada para consumo, disse o formador.

A próxima fase do projeto SEMEAR passa por “criar uma unidade de produção agrícola própria” para empregar os jovens após a formação, através de parcerias com empresas da área da agricultura e contando com “fundos europeus, nomeadamente o EEA Grants, e outros fundos privados”, disse a coordenadora Joana Santiago.