Numa altura em que as ações de sensibilização para a vacinação contra o HPV caíram no esquecimento, o Sapo Crescer entrevistou em exclusivo, Nuno Verdasca, responsável pelo Laboratório Nacional de Referência da Infeções Sexualmente Transmissíveis, do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA).

 

O número de raparigas infetadas por vírus do papiloma humano (HPV), em Portugal, é considerado elevado?

Tendo em consideração os dados epidemiológicos a nível mundial, a prevalência da infeção por HPV em Portugal está de acordo com os valores observados mundialmente (24%).

Em todos os países, o pico de infeção por HPV situa-se no grupo etário das mulheres jovens (com menos de 25 anos), o que se prende com o facto de se tratar de uma infeção extremamente frequente e de ser adquirida no início da atividade sexual.

Como a maioria das infeções por HPV é transitória, acaba por ser resolvida espontaneamente, levando assim a uma diminuição da prevalência da infeção com o aumento da faixa etária.

 

É uma situação alarmante?

A prevalência em Portugal encontra-se dentro dos valores observados a nível mundial.

Apesar de a situação não ser alarmante, não devemos descurar o problema e temos implementar medidas para que a infeção por HPV diminua, diminuindo assim as doenças que lhe estão associadas.

 

Considera que o plano de implementação da vacina contra o HPV foi bem executado?

O plano de implementação da vacina teve em conta os principais requisitos para obter os melhores resultados em termos de custo/benefício:

  • Vacina totalmente gratuita para as raparigas incluídas no plano de vacinação;
  • Vacinação ocorrer antes do início da atividade sexual.

A idade ideal para a vacinação varia de país para país e prende-se com a idade média de início da atividade sexual. Em Portugal, as raparigas são vacinadas aos 13 anos de idade.

Portugal foi um dos 10 países da UE a implementar um programa adicional de repescagem que permitiu que as raparigas que completassem 17 anos nos anos de 2008, 2009 e 2010 fossem incluídas no programa de vacinação.

Esta medida contribuiu não só para aumentar o número de raparigas vacinadas como também para acelerar o impacto do programa de vacinação para o HPV.

 

Uma vez que, de acordo com dados da Direção-Geral da Saúde (DGS), a taxa de vacinação está a diminuir e que das raparigas vacinadas pouco mais de metade receberam as três tomas, o que é que estará a falhar?

Portugal é um dos países da UE onde a taxa de eficiência da cobertura vacinal é mais elevada (em 2010, somente Portugal e o Reino Unido tiveram uma taxa de cobertura igual ou superior a 80 por cento).

Na Europa, a percentagem de raparigas vacinadas é baixa e verifica-se uma diminuição da taxa de cobertura (Dinamarca e Itália entre 50 a 60 por cento; França, Luxemburgo e Noruega com uma taxa inferior a 30 por cento, dados de 2010).

A maior aceitação por parte das raparigas em serem vacinadas ocorreu aquando da implementação dos programas, talvez porque a mediatização que na altura ocorreu tenha sensibilizado os visados para a importância da vacinação.

Importa salientar que um fator preponderante para o sucesso da implementação do programa de vacinação para o HPV é a sua aceitação por parte dos pais.

Como se processa a vacinação do HPV?

A vacinação do HPV em Portugal ocorre da seguinte forma: as raparigas em idade de vacinação são convocadas para a primeira dose, ficando a segunda e terceira dose da vacina à «responsabilidade» da rapariga/dos pais, inexistindo, por parte do Centro de Saúde, qualquer alerta para a toma da segunda e terceira dose.

Em Portugal, todas as raparigas que tenham iniciado a vacinação podem concluir gratuitamente o calendário de vacinação até perfazerem os 25 anos de idade.

Existem estudos que evidenciam que o não seguimento do intervalo preconizado entre as doses da vacinação não influencia a eficácia da vacinação.

Este facto pode contribuir para assegurar que um maior número de adolescentes complete as três doses da vacina.

 

O que, do ponto de vista do INSA, pode ser feito para aumentar a sensibilização da população portuguesa para a prevenção do HPV?

Uma maior consciencialização do problema da infeção por HPV adquire-se através de um aumento das campanhas de informação/sensibilização sobre a forma de transmissão da infeção e de como se evitar a sua transmissão.

Deviam ser realizadas mais campanhas para publicitar os benefícios da vacinação para o HPV. Estas campanhas de informação deviam incidir tanto sobre os jovens como sobre os pais.

De realçar que estas companhas informativas deveriam referir que a vacina protege contra apenas dois ou quatro tipos de HPV (conforme a vacina administrada) e que, apesar da vacinação, não devem ser descuradas as medidas de prevenção de qualquer infeção sexualmente transmissível, nem a vigilância ginecológica das mulheres vacinadas.

É importante que não seja incutida uma falsa segurança às mulheres no que concerne às doenças associadas à infeção por HPV.

 

Qual é o papel do INSA na luta contra o HPV em Portugal?

No INSA funciona o Laboratório Nacional de Referência para as Infeções Sexualmente Transmissíveis, que desempenha a missão de referência para a infeção por HPV e onde se realizam avaliações e validações de sistemas de diagnóstico laboratorial da infeção por HPV.

O INSA também desempenha a sua função de vigilância epidemiológica da infeção por HPV além de ter desenvolvido, e de estar a desenvolver, projetos de investigação na área.

Atualmente, está em preparação um estudo para verificar a eficácia da vacina em Portugal.

 

 

Maruia João Pratt

 

Mais informações:

Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge

Direção-Geral da Saúde