A maioria dos pais que gritam com os seus filhos adolescentes não sonhariam em puni-los fisicamente. No entanto, o uso de uma dura disciplina verbal – definida como gritos, palavrões ou insultos – pode ser tão prejudicial para o bem-estar a longo prazo dos adolescentes como as punições físicas.

 

Essa é a principal conclusão de um novo estudo coordenado por Ming- Te Wang, professor na Escola de Educação da Universidade de Pittsburgh. Os resultados foram agora publicados na revista Child Development.

 

A investigação mostrou que a maioria dos pais usam a disciplina verbal dura em algum momento durante a adolescência dos filhos. Contudo, tem sido feita pouca pesquisa para entender os efeitos deste tipo de disciplina.

 

O estudo, em coautoria com Sarah Kenny, conclui que, invés de minimizar o comportamento problemático dos adolescentes, o uso de uma disciplina verbal dura pode, de facto, agravá-lo.

 

Os especialistas descobriram que os adolescentes que experimentaram uma disciplina verbal dura sofriam de um aumento dos níveis de sintomas depressivos e apresentavam-se mais propensos a mostrar problemas comportamentais, tais como vandalismo ou comportamento antissocial e agressivo.

 

O estudo é um dos primeiros a indicar que uma disciplina verbal dura por parte dos pais pode ser prejudicial para o desenvolvimento dos adolescentes.

Efeitos prejudiciais duradouros

Talvez o mais surpreendente seja que Ming-Te Wang e Sarah Kenny descobriram que os efeitos negativos da disciplina verbal durante o período de dois anos que o estudo durou foram comparáveis aos efeitos mostrados, no mesmo período de tempo, noutros estudos que incidiram sobre a disciplina física.

 

«Podemos inferir que estes resultados irão durar da mesma forma que os efeitos da disciplina física, uma vez que os efeitos imediatos e até dois da disciplina verbal eram quase os mesmos que para a disciplina física», disse Ming-Te Wang. Com base na literatura existente sobre os efeitos da disciplina física, os investigadores antecipam resultados semelhantes a longo prazo para os adolescentes submetidos a uma disciplina verbal dura.

 

Significativamente, os pesquisadores também descobriram que o «calor parental», ou seja, o grau de amor, apoio emocional e afeto entre pais e adolescentes, não diminui os efeitos da disciplina verbal. A sensação de que os pais estão a gritar com o filho «por amor», ou «para o seu próprio bem», afirmou Ming-Te Wang, não atenua o dano infligido. Nem a força do vínculo pai-filho.

 

Mesmo recorrendo apenas ocasionalmente ao uso de disciplina verbal dura, declarou o investigador, tal pode ser prejudicial. «Mesmo se o pai seja solidário com o filho, se perder a cabeça é igualmente mau», disse.

 

Outra contribuição importante do trabalho é a constatação de que estes resultados são bidirecionais: os autores mostraram que a disciplina verbal dura ocorria com maior frequência nos casos em que o adolescente exibia comportamentos problemáticos, e esses mesmos problemas de comportamento, por sua vez, eram mais propensos a continuar quando o adolescente recebia disciplina verbal.

 

«É um círculo vicioso», disse Ming-Te Wang. «E é uma decisão difícil para os pais, porque vai nos dois sentidos: comportamentos problemáticos dos filhos criam o desejo de dar disciplina verbal dura, mas esta disciplina pode empurrar os adolescentes para esses mesmos problemas de comportamento.»

 

Os investigadores relatam que os pais que desejam modificar o comportamento dos filhos adolescentes deveriam ser aconselhados a se comunicar com eles em pé de igualdade, explicando-lhes as suas preocupações e justificações. Programas para pais, dizem os autores do estudo, estão bem posicionados para oferecer aos pais compreensão sobre a ineficácia da disciplina verbal dura e para oferecer alternativas.

 

 

Maria João Pratt