Devido aos avisos colocados na quarta-feira nos dois portões da escola - já que na quinta-feira foi feriado municipal em Beja -, alertando para o facto de poderem não estar asseguradas as condições para o normal funcionamento das aulas por causa da greve, foram poucos os pais e alunos que hoje se deslocaram à escola. "Li os avisos", colocados nos portões de acesso ao edifício dos 2.º e 3.º ciclos e ao centro educativo do pré-escolar e do 1.º ciclo, e "sabia que a escola podia fechar, mas vim cá hoje confirmar e, de facto, está fechada e não há aulas", conta à Lusa Tânia Fernández, que tem dois filhos naquela escola.

Por isso, "vou ter que faltar ao trabalho, porque não tenho com quem deixar as crianças", lamenta Tânia Fernández, que foi obrigada a ficar em casa para cuidar do filho, de cinco anos, que frequenta o pré-escolar, e a filha, de 12 anos, que está no 6.º ano.

Também alertado pelo aviso, António Gonçalves, de 42 anos, cuja filha de 10 anos frequenta o 4.º ano, sabia que a escola podia fechar, mas veio confirmar. "A escola está mesmo fechada e vou ter que levar a miúda comigo para o trabalho", lamentou à Lusa António Gonçalves, enquanto a filha sorria, "contente" por não ter aulas e ir "passar um dia diferente", com o pai no trabalho.

Já Duarte Janeiro lamenta “o transtorno” causado pela greve e conta à Lusa que deixou na escola a filha, de 11 anos, que frequenta o 6.º ano, a qual ficou de lhe ligar mais tarde caso não tivesse aulas para a ir buscar e arranjar alguém com quem a deixar, o que acabou por acontecer. "Independentemente das reivindicações, o número de dias sem aulas este ano, nesta escola, já começa a ser demais", lamentou, lembrando que a Escola Básica de Santiago Maior já fechou três vezes este ano.

Além de hoje, a escola fechou no dia 03 de fevereiro devido a uma greve dos funcionários das escolas e durante parte da manhã do dia 06 daquele mês por causa de um protesto de pais e alunos contra a falta de auxiliares.

O transtorno causado a pais contrasta com a alegria de alunos, como Lia, de 13 anos, e Inês, de 15 anos, que frequentam o 7.º ano, e que ficaram "contentes com mais um dia sem aulas", depois de um feriado, na quinta-feira, e antes de um fim de semana. "É bom não ter aulas, apesar de me ter levantado cedo na mesma para vir confirmar se havia ou não aulas", conta Inês, frisando que, para ela, "não foi tão chato", porque mora perto, mas houve alunos que tiveram de vir de longe para confirmarem se havia aulas ou não.

É o caso de Valentim, de 14 anos, aluno do 8.º ano, que mora na aldeia de Santa Vitória, a cerca de 20 quilómetros de Beja, e teve de se levantar cedo e vir à escola para confirmar se havia aulas ou não e acabou por "bater com o nariz no portão". "Por um lado é bom, porque tenho quatro dias sem aulas para descansar, mas, por outro, é mau, porque vou perder duas aulas importantes de matemática, já que preciso de levantar a nota à disciplina", disse.

Já no Centro de Saúde de Beja, três utentes abordados pela Lusa contam que não foram afetados pela greve.

Francisco Horta, de 88 anos, e Maria do Carmo Estevens, de 79 anos, tinham análises marcadas e fizeram-nas, enquanto António Santos, de 72 anos, tinha uma consulta marcada para hoje e foi consultado pela médica de família.

Convocada pela Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais (FNSTFPS), a greve nacional de hoje na Função Pública foi anunciada no início de abril para reivindicar aumentos salariais, pagamento de horas extraordinárias e as 35 horas de trabalho semanais para todos os funcionários do Estado.

O regime das 35 horas foi reposto em julho de 2016, deixando de fora os funcionários com contrato individual de trabalho, sobretudo os que prestam serviço nos hospitais EPE.

A FNSTFPS, afeta à CGTP, é composta pelos sindicatos do norte, centro, sul, regiões autónomas e consulares, e representa 330 mil funcionários.

A última greve geral convocada pela FNSTFPS com vista à reposição das 35 horas semanais realizou-se em janeiro do ano passado, e teve, segundo a estrutura, uma adesão média entre 70% e 80%, incluindo os hospitais.