O bebé Heath – como é conhecido – tem agora quase oito semanas de idade e foi concebido usando uma hormona natural para ativar o funcionamento dos ovários da mãe.

 

Médicos do Hospital de Hammersmith e do Imperial College, ambos em Londres (Reino Unido) afirmam que o tratamento pioneiro com kisspeptina, hormona que ocorre naturalmente no corpo humano, poderia ajudar muitas outras mulheres. Este novo tratamento evita uma complicação rara mas fatal associada à fertilização in vitro (FIV) convencional.

 

Especialistas de todo o mundo saudaram a descoberta, mas advertem que ainda demorarão alguns anos até que o tratamento se torne amplamente disponível, além de que são necessários mais estudos num maior número de mulheres.

 

Riscos da fertilização in vitro

Cerca de uma em cada 100 mulheres submetidas a tratamentos de FIV convencionais irá desenvolver uma forma grave de uma condição médica chamada síndroma de hiperestimulação ovárica ou SHO. Em vez de produzir alguns óvulos, conforme o desejado, os ovários entram em superprodução e produzem lotes de óvulos em resposta aos potentes medicamentos para a fertilidade.

 

Enquanto a maioria das mulheres com SHO apresentam sintomas ligeiros e recuperam bem, as poucas com SHO grave ficam muito doentes e podem morrer. Os médicos estão sempre à procura de sinais de alerta de SHO e mantêm um olhar atento sobre as dezenas de milhares de mulheres que se submetem a fertilização in vitro todos os anos, no Reino Unido. Agora, especialistas britânicos dizem ter encontrado uma maneira de tornar a fertilização in vitro mais segura usando a hormona kisspeptina.

 

Os investigadores Waljit Dhillo, do Imperial College, e Geoffrey Trew, diretor da clínica de fertilização in vitro do Hospital de Hammersmith, realizaram os primeiros testes do novo medicamento de fertilidade em seres humanos. Os primeiros resultados em 30 mulheres mostram que a kisspeptina pode ser usada para estimular a libertação do óvulo de uma forma mais suave, mais natural. A kisspeptina funcionou em 29 das 30 mulheres e 28 delas foram capazes de usar os seus óvulos para tentar a fertilização in vitro. Até agora, apenas um bebé nasceu – um menino saudável chamado Heath.

Uma história de sucesso

A mãe de Heath, Suzie Kidd, de 34 anos, afirma estar em êxtase por ter sido escolhida para participar no ensaio clínico. «Como nós já temos um filho, Lochlann, que nasceu por fertilização in vitro através do NHS (serviço público de saúde britânico), nunca pensei que poderia ter a sorte de ser novamente escolhida para um tratamento de FIV. Estamos muito agradecidos.» Quando inquirida se, no futuro, irá contar a Heath sobre a sua importância para a Medicina, Suzie Kidd afirmou que «Penso que sim. Eu não fazia ideia de que este processo todo era realmente importante.»

 

Geoffrey Trew declarou que «Estamos absolutamente encantados que este estudo tenha resultado no nascimento de um bebé saudável. Todos os anos, milhares de casais britânicos recorrem a tratamentos de fertilização in vitro para iniciarem as suas famílias e se nós podemos trabalhar para eliminar o risco de SHO, utilizando a kisspeptina, que é uma hormona que ocorre naturalmente, espero que possamos ajudar ainda mais as mulheres e fazer deste tratamento um procedimento potencialmente mais seguro.» Quando os investigadores terminarem este estudo, durante o verão, esperam começar testes com maior amplitude em doentes com alto risco de SHO.

 

Richard Fleming, da Sociedade Britânica de Fertilidade (BFS), afirma que os especialistas têm-se esforçado para tornar a FIV menos arriscada, embora seja, geralmente, um procedimento seguro. «O que tem sido o tratamento convencional nos últimos 30 anos é arriscado. Isto parece uma outra maneira de fazer todo o processo de fertilização in vitro mais seguro.» Também disse que ainda é muito cedo para recomendar a kisspeptina de forma rotineira, já que são necessários mais estudos. «Se as mulheres estão preocupadas, os seus médicos assistentes podem explicar os riscos e os méritos da fertilização in vitro e recomendar o melhor tratamento. Há doentes que respondem muito melhor aos tratamentos convencionais de fertilização in vitro

 

O estudo foi financiado pelo Conselho de Investigação Médica e pelo Instituto Nacional de Investigação em Saúde, ambos do Reino Unido, e os resultados serão apresentados durante esta semana no encontro anual da Sociedade de Endocrinologia, em São Francisco, EUA.

 

 

Maria João Pratt

Fonte: BBC News UK