Segundo o “Barómetro de pessoas que se encontram em situação vulnerável - Fase II”, que é apresentado hoje em Lisboa, das 57 situações analisadas, 17 mantêm a mesma situação de pobreza de 2011, mas para 30 a situação de fragilização em que se encontravam agravou-se e, para 10, a situação melhorou.

“Três anos depois, uma parte substancial destas pessoas está pior, o que não é uma conclusão muito estranha dado o recuo das respostas das políticas públicas, das prestações sociais”, disse à agência Lusa o diretor do Observatório da Luta contra a Pobreza da Cidade de Lisboa, Sérgio Aires.

O agravamento da situação de vulnerabilidade em todos os perfis estudados é resultado em larga medida da ausência de respostas às necessidades mais básicas: rendimento, habitação e saúde.

Sérgio Aires explicou que este estudo longitudinal, cuja primeira fase decorreu em 2011 e a segunda em 2013/2014, prevendo-se que se mantenha, pelo menos, até 2020, tem como “principal objetivo” perceber “o impacto das respostas existentes e das políticas públicas face à pobreza e exclusão num determinado grupo de pessoas residente em Lisboa”.

Este grupo “não é representativo da sociedade portuguesa”, mas é “representativo de um conjunto de perfis de pessoas que vivem em situação de pobreza”, explicou.

O estudo envolveu 17 trabalhadores pobres, 10 idosos, 10 incapacitados para o trabalho por motivos de doença, nove desempregados, sete desfiliados, dois trabalhadores e duas cuidadoras informais.

Mais velhos em pior situação

A maioria dos entrevistados (39 em 57) tem uma situação de pobreza (persistente, ou ocasional) há mais de oito anos, e esta situação é transversal a todos os grupos, embora atinja mais frequentemente os mais velhos.

No grupo onde a pobreza é mais recente (menos de oito anos) metade vem de grupos familiares com pobreza geracional.

“A incidência da pobreza geracional num grupo tão significativo de pobreza recente faz temer a sua passagem a um estádio permanente à medida que avança a idade e/ou que aumenta o tempo sem encontrar trabalho”, salienta o estudo.

Para os que consideram que melhoraram a sua situação, o que mudou foi que arranjaram uma ocupação remunerada ou melhoraram a situação de saúde.

Já o piorar da situação está associada a fatores imprevisíveis, como a morte de familiares que faz perder a habitação e o rendimento, ou problemas de saúde.

“A estabilidade na manutenção da situação de pobreza parece estar, sobretudo, associada àqueles que vão mantendo uma relação com o mercado de trabalho, mesmo que precária, ou que acabaram por conseguir manter um apoio social” que lhes permite garantir a subsistência.

Para Sérgio Aires, é “extremamente preocupante” não se conseguir quebrar o ciclo vicioso da pobreza, porque faz com que se mantenha e agrave.

Sobre o que está a falhar nesta luta, o responsável disse que é não haver “uma estratégia de combate à pobreza que ataque de facto as causas do problema”.

“Tentamos amenizar as consequências, assistir a alguns casos mais urgentes e complicados, mas em poucos casos conseguimos quebrar esse ciclo de pobreza”, lamentou.