O estudo é publicado hoje na revista científica Current Biology e abre portas a outras investigações, nomeadamente a respostas como o que leva as pessoas a preferir um alimento a outro, a desejar algo específico, ou a forma como a alimentação controla o envelhecimento.

Provado, segundo o estudo, que a mosca da fruta reage como os humanos na questão do sal o investigador, em declarações à Lusa, explicou que o próximo passo é entender o processo no cérebro. “Como é que o paladar do sal é controlado? O próximo passo é isso.”, disse, explicando que a mosca da fruta é uma excelente via para fazer experiências, que não se podem fazer em humanos.

Carlos Ribeiro é investigador principal do programa de Neurociências da Fundação Champalimaud e trabalha nomeadamente na área do comportamento, metabolismo e nutrição, no sentido de perceber os processos cerebrais de decisão ao nível da alimentação.

Cérebro complexo

Nesta investigação quer perceber quais os mecanismos no cérebro que leva a esse desejo de sal, que mudanças acontecem, quais os neurónios que mudam, e se usar para isso a mosca da fruta poderá chegar aos humanos, explicou à Lusa, acrescentando: “os problemas da nutrição são muito complicados” e o cérebro é tão complexo que é importante pelo menos saber a área onde ir procurar respostas.

“Quando nos apetece algo específico é porquê? É uma reação específica do cérebro. Os insetos controlam rigorosamente as proteínas que comem e os humanos também. Como é que isso funciona, e porque é que às vezes não funciona?”, questionou o investigador.

Segundo a Fundação Champalimaud, num comunicado sobre o estudo, os desejos durante a gravidez podem estar relacionados com as necessidades nutricionais do feto, especialmente para nutrientes como as proteínas e o sal.

“Através de uma série de experiências, os investigadores revelaram, pela primeira vez, que as moscas partilham de facto a tendência dos mamíferos para um consumo superior de sal durante a gravidez, e demonstraram ainda que níveis mais elevados de sal na dieta resultam num maior número de descendentes”, diz o comunicado, acrescentando: “Verificámos que existe uma correlação direta entre a quantidade de sal na dieta e a quantidade de ovos que as moscas conseguem produzir”.

Carlos Ribeiro diz que o sal parecer ser muito importante a muitas espécies, de moscas a elefantes ou a humanos, o que “sugere a existência de princípios biológicos universais subjacentes a este comportamento e que poderão ser identificados em diferentes espécies.”

O cérebro da mosca, diz o estudo, parece conseguir perceber quando é necessário mais sal para produzir ovos e, por isso, automaticamente muda a forma como o animal perceciona esta necessidade, levando a mosca a ingerir maiores quantidades de sal. E como disse Carlos Ribeiro conhecer os mecanismos cerebrais na mosca é meio caminho andado para entender os dos humanos.