Neste contexto, "ter uma educadora de infância na sala de berçário e promover uma boa comunicação entre a creche e a família podem fazer a diferença para a adaptação dos bebés à creche", disse à Lusa a investigadora do Centro de Investigação e Inovação em Educação da Escola Superior de Educação (ESE) do IPP e do Centro de Psicologia da Universidade do Porto, Sílvia Barros.

"A forma como os adultos interagem com os bebés é muito importante, especialmente considerando que os bebés passam muitas horas na creche, sendo crucial que se estabeleçam interações individualizadas, positivas e responsivas".

Contudo, "nas creches, por muito boas que sejam as relações, no limite legal podem estar até dez bebés numa sala. Havendo dez, são necessários dois adultos para os cuidar, que equivale a cinco bebés por cada um, o que é muito", defendeu.

De acordo com a investigadora, e segundo dados do Eurostat - autoridade estatística da União Europeia - de 2014, na União Europeia, crianças com menos de três anos passam, em média, 26 horas semanais nas creches. Em Portugal passam cerca de 40 horas. "A Carta Social de 2014 (estatística anual da Segurança Social sobre as creches) mostra que em 45% destas instituições as crianças passam em média entre oito a dez horas por dia".

O número de horas que os bebés passam nas creches foi uma das variáveis estudadas no projeto "Transição dos bebés para a creche: comunicação família-creche, qualidade dos contextos e adaptação do bebé", financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT).

O objetivo deste projeto era investigar a transição do bebé para a creche, no primeiro ano de vida, examinando em que medida as variáveis da família e da instituição e a comunicação pais-cuidadores influenciam a sua adaptação ao longo dos primeiros seis meses. Participaram no estudo 90 crianças (com menos de 12 meses), os seus pais e os profissionais de 90 creches (um bebé por creche) do distrito do Porto, e dos concelhos de São João da Madeira, Santa Maria da Feira e Vale de Cambra.

A informação foi recolhida em três momentos (antes da entrada na creche, durante o primeiro mês do bebé na creche e cinco/seis meses mais tarde) através de entrevistas, questionários e observações.

Quanto à preparação da transição do bebé para a creche, constatou-se que, na generalidade, os responsáveis por estes espaços mostram muito cuidado nas práticas que são consideradas desejáveis, como reunir com os pais, preencher alguns documentos que permitam caracterizar a criança e fornecer-lhes informações sobre o funcionamento da instituição, o que acaba por ter influência no bem-estar dos bebés.

Foi possível perceber, com base na recolha de dados nessas creches, que havia uma tendência para a qualidade das interações adulto-criança diminuir ao longo do tempo, devido ao aumento do número de bebés na sala.

"Verificámos ainda que as dinâmicas se complicavam no decorrer da manhã, aumentando as interações menos positivas, devido ao cansaço e à chegada da hora do almoço", referiu Sílvia Barros.

Para a investigadora, nas creches de qualidade mais elevada, as crianças tendem a estar envolvidas mais ativamente e a passarem menos tempo em comportamentos que são considerados de não envolvimento, como, por exemplo, estar simplesmente com a chupeta na boca, não prestar atenção, não tentar comunicar ou explorar algum brinquedo.

"A qualidade tende a ser mais elevada quando há, assumidamente, educadoras de infância na sala a tempo inteiro ou que façam um grande trabalho de proximidade com a sala para bebés", disse a investigadora.

Os resultados indicam que apenas 31% das instituições participantes tinham uma educadora de infância indicada como sendo a responsável pela sala dos bebés, e, dessas, apenas 15 tinham uma educadora de infância a trabalhar a tempo inteiro nessa sala. "Note-se que não existe essa obrigatoriedade nas salas para bebés", acrescentou.

A "boa comunicação" entre as famílias e as creches "é bastante valorizada" e as creches que "garantem mais qualidade a outros níveis acabam por ser as que comunicam melhor com os pais", conluiu.

Neste projeto contribuíram também as investigadoras Manuela Pessanha e Carla Peixoto, da ESE, Joana Cadima, Ana Isabel Pinto e Vera Coelho, da FPCEUP, e Donna Bryant, da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos.