Ainda houve quem se esquivasse, exclamando "Detesto abraçar desconhecidos!", mas a grande maioria dos utentes, visitantes, médicos ou enfermeiros que se viram a braços com a iniciativa, devolveram o cumprimento com desejos de boas-festas.

"Viemos com os caloiros distribuir carinho, amor e afeto, exatamente a uma semana do Natal, na forma de abraços", disse à Lusa Diogo Rodrigues, 21 anos, presidente da Associação Free Hugs - Abraços Grátis, considerando importante "dar uma palavra de força e de apreço a quem mais precisa".

Para o aluno de primeiro ano de mestrado de Gestão Desportiva, "a vida académica não é só uma vida boémia", pelo que coordenou a iniciativa que se realizou pelo terceiro ano consecutivo no sentido de demonstrar "outros valores a transmitir" pela praxe, que passarão também por "distribuir amor a quem precisa".

Pouco depois de ser abraçado por três caloiros da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, Arnaldo Pereira, de 48 anos, seguiu para uma consulta com a ideia de que essa proximidade "ajuda as pessoas a esquecer os problemas, quer de saúde, quer de outros tipos".

"As pessoas, infelizmente, só se lembram no Natal, mas [durante] todo o ano as pessoas precisam de ajuda e encorajamento, portanto, era bom que fosse todos os dias", considerou.

"Eu estou perplexo por ver isto no Hospital de S. João", confessou Américo Alves, de 69 anos, enquanto esperava por uma consulta de cardiologia, revelando que bastou um primeiro abraço para "ficar logo bem-disposto".

Segundo Alexandre Costa, também caloiro de Desporto, "a maioria das pessoas tem gostado de ser abraçada - há sempre algumas que não querem mas há que respeitar", considerou, sublinhando que "há espaço para todas as vertentes da praxe" nas universidades.

Agostinho Neves, de 68 anos, andava pelos corredores do serviço de consulta externa do S. João sem ter consulta ou alguém para visitar. Confessou à Lusa que gosta de andar pelo hospital para "matar saudades" do tempo em que a mulher lá trabalhava antes de lá morrer de cancro.

"É engraçado que todos os dias pedem silêncio e agora vêm para aqui fazer barulho só por ser Natal", considerou, acabado de ser abraçado por um grupo de cinco caloiros.

"Tudo o que é juventude é bonito, são como as flores num jardim", descreveu, louvando a iniciativa "porque é importante andar bem-disposto".