A presidente da Associação Portuguesa de Crianças Desaparecidas (APDC) afirmou hoje que a “estatística na área do desaparecimento de crianças é muito pouco fiável”, alertando que nem se sabe “quantas crianças migrantes não acompanhadas existem em Portugal”.

 

A Polícia Judiciária recebeu, em 2012, 2.366 participações de crianças e jovens desaparecidos, menos 226 face ao ano anterior, dos quais duas dezenas permanecem em investigação.

 

“A estatística na área do desaparecimento de crianças é muito pouco fiável, tendo em consideração que nem tão pouco sabemos quantas crianças migrantes não acompanhadas existem em Portugal e que, para todos os efeitos, estão sem a proteção e vigilância de qualquer adulto”, disse à agência Lusa Patrícia Cipriano.

 

Patrícia Cipriano questionou como é que “ninguém parece saber ou querer sequer saber” das crianças estrangeiras que andam a pedir pelas ruas de Lisboa e outras que, muitas vezes, andam a mendigar “sob a vigilância apertada de alguns adultos a quem entregam cada cêntimo que angariam”.

 

“As redes de tráfico de crianças, muitas vezes ligadas a máfias de tráfico de seres humanos, utilizam crianças por vezes na mendicidade”, que não são suas filhas nem lhes estão confiadas”, alertou. Apontou também casos em que menores, a partir dos 15 e 16 anos, são utilizadas para “a exploração sexual em bordéis na Europa”.

 

“Ninguém sabe quantas crianças estão ao certo desaparecidas na Europa e no mundo. Não me parece que Portugal possa dizer que sabe”, frisou.

 

“É certo que Portugal é um país relativamente seguro para as crianças, mas não se diga nunca que não há casos graves de desaparecimento de crianças”, sublinhou.

 

“Não nos podemos dar ao luxo de voltar a ter um caso como o do Rui Pedro em que a investigação não funcionou como e quando deveria”, criticou.

 

Para Patrícia Cipriano, há que ter “a humildade de querer fazer mais e melhor e acima de tudo prevenir, estar alerta, pensar na realidade, ter políticas de atuação e trabalhar num ambiente de verdadeira multidisciplinaridade quando de crianças se trata”.

 

“Nem tudo sabem as polícias e os tribunais, nem tudo sabem as organizações da sociedade civil, nem tudo sabem as forças policiais, mas todos juntos podemos saber mais do que cada um isoladamente”, sustentou.

 

Para a responsável, é na parceria entre instituições públicas e privadas que podem ser encontradas soluções para as “novas realidades” que envolvem crimes contra crianças.

 

“Importante é percebermos que as coisas existem em todo o mundo e que Portugal não é um país fora do planeta Terra em que nada acontece, por muito confortável que essa ideia nos pareça”, comentou.

 

Comentando os dados da PJ, Patrícia Cipriano afirmou que era necessário saber quantos desaparecimentos foram participados diretamente ao Ministério Público e estatísticas sobre a percentagem de desaparecidos por zona geográfica do país.

 

Patrícia Cipriano considerou fundamental esta informação para gizar políticas de prevenção e sensibilização e para adotar determinadas políticas na área da segurança infantil e da justiça.

 

Lusa