"É fundamental identificar cedo na vida as alergias, ver se a criança está sensibilizada aos ácaros, aos pólens, fungos e animais, com isso perceber como vai ser a evolução e conseguir fazer uma prevenção que permita controlar os sintomas e a doença, reduzindo o impacto na criança e na família", disse hoje à agência Lusa Mário Morais-Almeida, um dos investigadores do Centro de Alergia dos Hospitais CUF que participaram no projeto.

O trabalho foi o vencedor da 5.ª edição do "Prémio Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa / MSD em Epidemiologia Clínica", promovido por aquela Sociedade com o apoio da MSD e que recebeu 21 candidaturas de centros de investigação portugueses.

"É possível diagnosticar corretamente a asma e a rinite alérgica desde a idade pré escolar e as crianças que associam asma e rinite, com sintomas nos brônquios e no nariz são aquelas que têm maior possibilidade de continuar com queixas para toda a vida", salientou o investigador.

O estudo, que teve a participação das investigadoras Helena Pité, Ana Margarida Pereira e Ângela Gaspar, do Centro de Alergia dos Hospitais CUF (CUF Descobertas, CUF Infante Santo e CUF Porto), contou com uma amostra de mais de 300 crianças, com uma média de três anos.

Estas crianças tinham tido pelo menos três crises de falta de ar, habitualmente associadas à asma, mas que na altura eram consideradas bronquiolites que se repetiam e acerca das quais se sabia muito pouco, explicou Mário Morais-Almeida.

Foi feita uma associação com a parte genética, ou seja, com o facto de as crianças já terem o pai ou a mãe com queixas alérgicas, nomeadamente asma.

"Havia um grande risco que aquelas queixas de falta de ar já tivessem a identificar a existência de uma asma" e não bronquiolites ou bronquites, referiu o investigador, acrescentando que, se fosse imediatamente detetada a asma, poderia começar-se a prevenção desde muito cedo.

Observou-se também que identificar as queixas nasais, de rinite, em que as crianças estão sempre com o nariz tapado, a espirrar e a coçar o nariz, também era um fator de risco importante.

Com a prevenção em idade precoce, na adolescência "o impacto da doença é muito menor e é mais simples controlar", mas também é possível identificar quais as crianças que vão ter boa evolução, valendo a pena fazer tratamento sintomático, de crise, mas não de prevenção.

As conclusões do estudo permitem ter aplicação na prática clínica e influenciam o modo como se tratam agora as crianças com aquelas queixas, contribuindo para a melhoria da qualidade da vida dos mais pequenos e dos seus pais, já que estes problemas afetam a qualidade do sono de toda a família.

As alergias respiratórias são das doenças crónicas mais frequentes em idade pediátrica e mais de 30% das crianças apresenta sintomas de rinite, enquanto mais de 10% têm manifestações de asma, mesma percentagem afetada pelo eczema atópico, segundo dados da organização do prémio que será hoje entregue.

Mais de 5% das crianças sofrem de alergia alimentar e cerca de 2% a 5% das crianças têm alergia a medicamentos.