"As escolas do ensino infantil ao secundário não só têm desde sempre desempenhado um papel essencial, como também continuarão, seguramente, a assumi-lo. São elas que, inicialmente, motivam as crianças e os jovens para as vantagens de iniciar a aprendizagem ou de continuar a aprender a língua de origem", afirmou a professora.

Nas universidades, encontram-se muitos jovens que "agradecem aos pais e à família" o facto de os terem inscrito nestas escolas, assegurou a professora. "E, quando chegam à universidade, podem imediatamente matricular-se em níveis de ensino do português mais avançados, o que lhes trará grandes vantagens", acrescentou.

“As novas tecnologias nem sempre deixam entender o valor que tem a aprendizagem de línguas. Precisamos de líderes com visão e que continuem a apostar no ensino do português e outras línguas estrangeiras. Os jovens são hoje ‘assaltados' com tanta outra informação e opções, que nem sempre acertam nas escolhas que fazem. É preciso orientá-los", alertou.

Para Manuela Marujo, a língua portuguesa "abre portas a carreiras em muitas áreas" e, assim, os alunos que a escolhem sabem que, ao sair da universidade com mais essa ferramenta, irão "ter preferência ao lado de candidatos sem essas capacidades".

"Sabemos que é uma língua que não corre qualquer risco de desaparecer. E, assim, o futuro será sempre mais otimista para aqueles que aprendem a falar, ler e escrever uma das línguas mais usadas, a nível mundial. Só para apontar os exemplos mais óbvios: Portugal é um país milenário e continuará a ser um marco cultural no mundo; e o Brasil tem uma população que oferece garantias para muitos séculos", sublinhou Manuela Marujo.

Relativamente aos outros alunos que frequentam os cursos, de várias origens étnicas, o desafio é "talvez mais acrescido". "O nosso contributo, enquanto professores, terá de ser ainda maior, e, sobretudo, capaz de os incentivar a prosseguir com a aprendizagem do português; e, para isso, e a título meramente exemplificativo: aulas com o recurso a meios audiovisuais diversos, apoios, prémios, meios de viajar e conviver com as comunidades e com os países lusófonos", frisou.

Manuela Marujo nasceu em Santa Vitória, no distrito de Beja, em 1949, é professora de Língua e Cultura Portuguesas no Departamento de Espanhol e Português da Universidade de Toronto, desde 1985. Licenciou-se em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, e é doutorada em Ciências da Educação pela Universidade de Toronto (Canadá) e pela Universidade dos Açores (Portugal).

No dia 30 de junho, a docente terminará oficialmente as funções como professora naquele departamento, cerca de 30 anos após o início das mesmas. Em reconhecimento do seu percurso profissional, vai decorrer no dia 24 de maio um jantar de homenagem, que marca também o início das comemorações do 70.º aniversário dos Estudos Lusófonos na instituição de ensino.

A professora Luciana Graça, Leitora de Português do Camões, Instituto da Cooperação e da Língua na Universidade de Toronto, referiu que a homenagem a Manuela Marujo terá o testemunho de antigos colegas e alunos e o lançamento do livro "Portuguese at the University of Toronto - 70 Years at a Glance", da autoria da homenageada.

"Mesmo no ensino, há pessoas que nunca partem, quando o seu papel fora tão fundamental. Este é precisamente o caso da professora Manuela Marujo. Com a dedicação imensa, sempre também reunindo múltiplos esforços, conseguiu continuamente elevar cada vez mais o português, dando uma maior visibilidade à nossa língua e à nossa cultura", acrescentou Luciana Graça.