Débora Rebelo é da zona de Lisboa e veio para o Douro atrás de uma oportunidade de emprego na sua área de formação: a dança. Fez o percurso inverso de muitos outros que abandonam o interior em direção ao litoral, mas não se arrepende.

Respondeu a um anúncio de jornal para dar aulas numa escola na Régua, mas pouco depois já se estava a aventurar na abertura da sua própria escola de ballet em Santa Marta de Penaguião, um projeto que contou com o apoio da Câmara Municipal.

Um ano depois, são 33 as meninas que frequentam o espaço e o único menino que quis ir às aulas acabou por desistir porque era gozado pelos colegas e até pelas raparigas.

A professora quer agora recuperar esse menino, que de vez em quando não resiste à tentação e vai espreitar os ensaios, e, para isso, vai avançar com uma campanha de inscrições gratuitas para os rapazes.

“Para ver se quebro um pouco o tabu de que o ballet é só para as meninas e que a dança é só para as meninas”, afirmou hoje Débora Rebelo à agência Lusa.

Ballet para adultos é a próxima etapa

Quebrar barreiras tanto para as meninas como para os meninos é o objetivo da professora de 27 anos, que depois de conquistar rapazes para a escola quer também aventurar-se no ballet para adultos.

Santa Marta de Penaguião é uma pequena vila do distrito de Vila Real, ainda muito rural e onde a principal atividade económica é a viticultura. A bailarina diz que neste meio “mais pequeno” encontrou “mentalidades ainda muito fechadas”.

“Estou a tentar aproximar-me das pessoas e dar aos miúdos qualquer coisa boa. A arte é fundamental, a dança a música, acho que os preparará para o futuro, para as dificuldades e frustrações”, referiu.

E com o ballet, segundo Débora Rebelo, “eles têm de ultrapassar as limitações do corpo e conseguirem ir subindo os vários patamares e os diferentes graus”.

A escola funciona no auditório municipal, onde se ultimam os preparativos para o espetáculo que no sábado vai comemorar o seu primeiro aniversário.

Para além dos passos de ballet, as pequenas prepararam ainda uma dança contemporânea porque Débora acredita que “é bom” para elas experimentarem “várias abordagens e não ficarem apenas direcionadas para uma coisa”.

Filipa, 12 anos, sempre sonhou em ser bailarina. “Eu já desde pequena que me ponho em pontas, por isso, foi a partir daí que vim para aqui e quando soube que ia abrir uma escola fiquei logo toda contente e disse logo à mãe que queria vir”, disse à Lusa.

E é “alegria” que garante que sente quando sobe ao palco e sente a música.

Diana, 13 anos, tem outros sonhos. Quer ser cantora ou cabeleireira mas também gosta muito de dançar.

Fabiana, 10 anos, não esconde o nervosismo com a estreia de sábado. Por isso mesmo frisa que ainda tem que ensaiar mais um pouco. Foi esse mesmo nervosismo que a fez ficar reticente em entrar na escola mas agora garante que “gosta de tudo”.

Mafalda, 10 anos, não perde as duas aulas de ballet que tem por semana e apesar de considerar que “são puxadas” diz que sonha em ser bailarina.

Esta escola está de portas abertas para pessoas de todas as idades até para pessoas com mais dificuldades, como uma jovem de 23 anos que possui trissomia 21.

Cassandra tem 19 anos e vai conciliando as aulas do curso de farmácia com as de ballet que faz questão de frequentar sempre que regressa a casa.

“Gosto de dançar. É como uma terapia para mim. Gosto mesmo, não consigo estar parada”, sublinhou.

Débora já está também a dar aulas no Peso da Régua onde possui oito alunas, num projeto que conta com o apoio da União de Freguesias da Régua e Godim.