Especialistas do Institute of Cancer Research, do Reino Unido, analisaram o código genético total (uma sequência de ADN com três biliões de letras) de gémeos idênticos para revelar o que desencadeia a doença.

 

Mel Greaves, autor principal do estudo, e os seus colegas decidiram estudar gémeos idênticos que partilhavam o mesmo ADN herdado dos seus pais. Os gémeos estudados pelos investigadores tinham a forma mais comum de leucemia que afeta crianças – leucemia linfoblástica aguda (LLA), que é um cancro dos glóbulos brancos, ou leucócitos. Ambos os gémeos desenvolveram LLA no início da infância, por volta dos quatro anos de idade.

 

Comparando amostras de sangue e de medula óssea dos gémeos, já mais tarde na infância, os investigadores encontraram uma mutação genética idêntica em ambos os gémeos – um gene causador de leucemia comum, denominado ETV6-RUNX1. Os especialistas pensam que esta mutação deve ter ocorrido num dos gémeos enquanto estava no útero materno. Assim, células carregando a mutação propagaram-se ao outro gémeo através do sangue placentário em circulação, que partilhavam.

 

Os gémeos idênticos tinham um total de 22 outras mutações, mas nenhuma delas era partilhada por ambos os gémeos, o que leva a crer que devam tê-las acumulado após o nascimento à medida que a doença progredia, afirmam os investigadores.

 

Mel Greaves, em declarações à BBC, afirma que «Pudemos sequenciar o genoma humano todo. Disse-nos, pela primeira vez, que esta é a mutação-chave que inicia todo o processo da leucemia. As outras mutações deverão ter ocorrido após o nascimento».

 

Espera-se que a descoberta, publicada na revista Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), possa conduzir ao desenvolvimento de novos medicamentos para o combate à doença logo na origem.

 

No editorial da PNAS pode ler-se que «Esta interessante investigação mostra como é que o estudo do ADN de gémeos pode ajudar a compreender os erros genéticos que dão origem a cancros infantis e as subsequentes falhas que ocorrem à medida que o cancro evolui». O editorial conclui que «Estudos como este podem revelar novos caminhos para atingir as raízes primordiais do cancro e ajudar-nos a compreender melhor como a doença se desenvolve ao longo do tempo. As taxas de sobrevivência aumentaram significativamente nas últimas décadas graças à investigação médica, mas ainda há muito para fazer para tornar os tratamentos mais eficazes e com menores efeitos secundários».

 

A leucemia é a forma de cancro mais comum nas crianças e afeta um terço dos jovens doentes de cancro.

 

 

Maria João Pratt