Muitos dos casos de desaparecimento assinalados pela Polícia Judiciária são de jovens que fogem de casa em conflito com os pais, disse a inspetora da Unidade de Informação e Investigação Criminal da PJ em entrevista à agência Lusa, a propósito do Dia Internacional da Criança Desaparecida (25 de maio).

Muitas destas “fugas são uma chamada de atenção das crianças para os pais”, disse Sandra Ramos, alertando para a necessidade de “haver diálogo entre pais e filhos”.

O inspetor Fernando Santos explicou, por seu turno, à Lusa que para localizar um jovem ou uma criança desaparecida é fundamental a colaboração da família, mas nem sempre isso é possível.

“Nem todos os pais sabem quem têm em casa. Esse é o grande problema, sustentou Sandra Ramos, lamentando a “falta de conhecimento dos pais face à vida dos filhos”.

“Nós constatamos que muitos dos pais não conhecem os amigos dos filhos, nem têm os seus contactos telefónicos. Isto é assustador” e “dificulta muito a nossa atividade”, lamentou a inspetora.

Fernando Santos questionou também “como é que alguém que é responsável pela vida de um menor, não sabe os seus hábitos, não sabe para onde vai, não sabe que já anda a faltar à escola há três meses”. “Isso é muito difícil para nós”, lamentou o inspetor.

Para Sandra Ramos, “é preocupante” esta “ausência por parte dos pais no que toca à educação dos filhos”, considerando que têm metade da responsabilidade no seu desaparecimento.

Se o jovem tem “falta de afeto, de carinho e de compreensão” em casa não está bem e vai procurar isso na rua, sustentou a inspetora, defendendo: “os pais têm que fazer parte integrante da vida dos filhos”.

Crianças problemáticas

Também há casos de crianças problemáticas, mas, em qualquer dos casos, “os pais têm de estar atentos a alguns sinais” de mudança no comportamento da criança, frisou Sandra Ramos. Segundo Fernando Santos, há casos de jovens que fogem mais do que uma vez de casa.

Quando o comportamento é repetido, a situação é reportada à comissão de proteção de menores para “iniciar um processo de encaminhamento da criança junto do tribunal, porque a mãe ou o pai não tem capacidade de gerir aquela situação”, explicou o inspetor.

Sandra Ramos adiantou que o caso também é encaminhado para a comissão de menores quando os jovens “têm comportamento de risco e estão em contexto de risco, sobretudo as raparigas”.

“Temos obrigação de comunicar esta situação à comissão, sempre em colaboração com os pais, tentando sensibilizá-los para o problema que têm”, acrescentou a inspetora.

Na véspera de se assinalar o Dia Internacional da Criança Desaparecida, os inspetores voltaram a alertar para a necessidade de comunicar uma situação de desaparecimento logo que ocorra.

“Para saber se é crime ou não é nas primeiras horas, não é passado três ou quatro dias”, disse Sandra Ramos.