A atual crise, com desemprego elevado, pode interferir na decisão de ter filhos e provocar um adiamento do projeto do casal, que continua a dar importância à situação laboral e à existência de serviços de apoio, defendem especialistas.
"A conjuntura atual, com elevado desemprego, poderá ter efeitos na decisão de ter filhos, nomeadamente o adiamento" do projeto, disse hoje a coordenadora do Observatório das Famílias e das Políticas de Família (OFAP), Karen Wall.
Falando aos jornalistas à margem do seminário internacional do OFAP, que decorre em Lisboa, Karen Wall salientou as preocupações das famílias com a questão financeira, mas também com a forma como organizam o tempo, as condições no trabalho e a existência de serviços de apoio, como creches, para deixar os filhos enquantos os pais estão no emprego.
Uma das maiores preocupações dos pais relaciona-se com a procura de "uma creche após os seis meses do nascimento, com qualidade e a um custo baixo, o que nem sempre é possível" encontrar, apontou Karen Wall.
Portugal continua a ter uma das mais baixas de fecundidade da União Europeia, não ultrapassando 1,3 a 1,4 filhos, ou seja, não chega à taxa necessária para substituição na população, de 2,1 por cento. Ao contrário de outros países com uma fecundidade baixa, como Espanha ou Bulgária, que registaram alguma recuperação, Portugal apresentou uma quebra em 2009.
Karen Wall salientou políticas de incentivo à natalidade como o aumento das licenças parentais ou a possibilidade de esta licença ser dividida com o pai, assim como a expansão da rede pública de creches que, no entanto, não ultrapassava 35 por cento em 2009.
Estas medidas não parecem ter convencido os pais, principalmente quando se trata de ter um segundo filho, mas os especialistas dizem ser ainda muito cedo para poder fazer uma análise das suas consequências. Vanessa Cunha, também do OFAP, explicou que, no contexto europeu, Portugal tem uma baixa taxa de incidência de casais sem filhos, situando-se em cerca de cinco por cento, mas o mesmo já não se passa relativamente aos filhos únicos.
"Há um intervalo muito longo para o casal se preparar para o segundo filho porque não querem baixar o nível de vida da primeira criança, tanto em disponibilidade dos pais, como em rendimento" e, por vezes, acaba por desistir do projeto, referiu Vanessa Cunha.
As políticas existentes "não são suficientes" para resolver a organização entre a família e o trabalho ou para conseguir conciliar da melhor forma o tempo para as crianças e para a vida profissional, acrescentou a especialista.
"Seriam necessários serviços de apoio de qualidade, com horários longos e o preço nivelado para os rendimentos das famílias", concluiram as especialistas.
 Lusa
14 de julho de 2011