Segundo a investigadora do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, que em 2011 coordenou o estudo ‘Consumo e poupança infantil: diferenças por contexto socioeconómico’, a poupança nas crianças sempre foi “muito valorizada”.

 

A maioria das crianças dos oito aos 12 anos inquiridas no estudo, disse acreditar que “quem poupa vive melhor do que quem não poupa (74%)”, disse a socióloga, que falava à Lusa a propósito do Dia Mundial da Poupança, que se assinala na quinta-feira.

 

Citando o estudo, que inquiriu 245 alunos do 1.º ciclo, Raquel Barbosa Ribeiro disse que 97% das crianças evocou que a sua família dizia que poupar era importante, 79% atribuiu aos pais a mensagem de que o dinheiro não é para desperdiçar e 72% de que não se deve gastar o dinheiro. “Os conteúdos transmitidos pelos pais aos filhos sobre consumo parecem valorizar muito a poupança”, salientou.

 

A socióloga adiantou que, segundo outros estudos que tem realizado, o destaque dado à poupança, em diferentes períodos (incluindo o anterior aos primeiros indicadores de recessão económica) manteve-se muito elevado, em diferentes gerações.

 

“Daí que, pelo menos do ponto de vista das crenças e atitudes, as crianças acreditem que poupar é importante, chegando mesmo a ‘criticar’ os pais quando acham que eles gastam demasiado”, sustentou, observando que este é um traço que se encontra noutros estudos com crianças de diferentes países.

 

Para sensibilizar os jovens para esta temática, a Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor realiza, na quinta-feira, várias atividades dirigidas aos mais novos e ações em escolas.

 

“As crianças devem começar desde cedo a ter contacto com esta realidade”, disse à Lusa a coordenadora do Gabinete de Apoio ao Sobreendividado da DECO, Natália Nunes.

 

Para assinalar a efeméride, a DECO lançou a pergunta se “ainda é possível poupar” num ambiente de crise, em que as famílias são confrontadas com a redução do seu rendimento disponível. Para Natália Nunes, ainda é possível fazê-lo: “É verdade que não é fácil fazê-lo com toda a pressão que existe atualmente”.

 

Contudo, “fruto desta crise e da incerteza relativamente aos rendimentos futuros, as pessoas já estão conscientes da necessidade de poupar” e têm vindo “a adotar alguns hábitos de consumo que lhes permite gastar menos e consequentemente poupar”.

 

“Um dos aspetos positivos desta crise é o de consciencializar as pessoas de que não podem continuar a ter os comportamentos de consumo que tiveram nos últimos tempos”, sublinhou.

 

Os portugueses têm de “olhar para o seu orçamento, serem mais responsáveis na forma como lidam com o dinheiro e dar um papel fundamental à questão de poupança”, disse Natália Nunes.

 

Como dicas de poupança, aconselhou a realização de um “orçamento familiar”, o “melhor instrumento” para gerir de “forma responsável” o dinheiro.

É fundamental que as famílias tenham uma poupança para “os imprevistos” e para aquisição de um bem ou serviço a médio prazo. “Deve haver também uma preocupação com a poupança a longo prazo” a pensar na reforma, sublinhou.

 

Lusa