Portugal é um dos países da Europa que mais antibióticos ingere, o que sucede desde a mais tenra idade. Uma situação que, no futuro, acaba por ter repercussões, a vários níveis, na saúde de bebés e crianças. Um estudo da Johns Hopkins Bloomberg School em Baltimore, nos EUA, divulgado no The International Journal of Obesity em finais de outubro, garante que as crianças que tomam estes fármacos tendem a engordar mais facilmente. A pesquisa que o sustenta envolveu a análise de 163.820 crianças entre os 3 e 18 anos.

«Há um efeito cumulativo na infância que incide no Índice de Massa Corporal (IMC) que é sugerido [agora] e para sempre», assegura Brian S. Schwartz, professor no Departemento de Ciências de Saúde Ambiental da instituição e coordenador do estudo. «Cada vez que damos um antibiótico a uma criança, ela tende a engordar mais rapidamente», assegura o especialista. Aos 15 anos, os adolescentes que nunca tinham tomado estes fármacos tinham, em média, menos 1,5 quilos do que os outros.

Extrapolando os resultados, os cientistas acreditam que essa situação pode estar na origem de ganhos de peso na idade adulta. Os especialistas justificam a situação com a ocorrência de mutações genéticas na flora intestinal. Estas informações vêm reforçar as conclusões de um estudo anterior que assegura que os filhos das mulheres que tomam antibióticos durante a gravidez também têm maior propensão para a obesidade.

Os antibióticos e os riscos de alergias na infância

O efeito nefasto destes fármacos não se esgota, todavia, aqui. Um estudo da Escola de Saúde Pública de Yale, nos EUA, concluiu que os bebés que tomam antibióticos nos seis primeiros meses de vida têm mais probabilidades de desenvolver asma e alergias por volta dos seis anos de idade. O facto já tinha sido provado anteriormente mas, na altura, o estudo referia apenas crianças que usaram antibióticos para tratar infeções respiratórias.

Esta nova pesquisa, que envolveu 1.400 crianças desde o seu nascimento, concluiu que os antibióticos aumentam o risco de asma mesmo em crianças que sofreram outras doenças que não respiratórias. A justificação reside no facto de os antibióticos alterarem a flora intestinal, provocando desequilíbrios no sistema imunológico e na resposta alérgica do organismo. Em 2013, o Medical News Today também divulgou um estudo que aborda o problema.

De acordo com o relatório que o sustenta, o uso de antibióticos no primeiro ano de vida aumenta o risco de eczema em 40%, enquanto um estudo ainda mais recente sugeria que o consumo deste tipo de fármacos na infância pode aumentar o risco de asma na adolescência e na idade adulta. Em causa está a mutação de bactérias intestinais benéficas, que tornam as crianças mais propensas a essa patologia.