Ouvida hoje no Tribunal de Faro por teleconferência, a partir de Dublin, na Irlanda, Candice Gannon relatou que a menina, hoje com dez anos, ficou "profundamente marcada" pelo período em que viveu com o pai na casa de um amigo, no Porto, altura desde a qual passou a sofrer de ansiedade, a ter problemas para dormir e também de autoconfiança.

A criança, Giselle Silva, conhecida como Ellie, foi também ouvida como testemunha e relatou que o pai a levou para o Porto contra a sua vontade, que vivia assustada e que tinha de andar disfarçada com um gorro quando ia ao café, acrescentando ainda que não pedia ao pai para regressar à Irlanda, ou para contactar a mãe, por ter medo da sua reação.

Filipe Silva não entregou a menina à mãe, de nacionalidade irlandesa, após tê-la ido buscar em julho de 2012 para um período de férias de 15 dias, tendo-a mantido consigo em paradeiro incerto durante sete meses, situação que só teve um desfecho em fevereiro de 2013, quando a criança foi entregue às autoridades pela avó paterna, já depois de Filipe ter sido detido pela Polícia Judiciária (PJ).

De acordo com a mãe da criança, a menina é acompanhada diariamente por um terapeuta infantil e, apesar de estar a recuperar, deverá ficar marcada "para o resto da vida" na sequência dos sete meses que durou o alegado sequestro, pois "não é normal para uma criança de sete anos ficar longe da mãe e da família".

Candice Gannon acrescentou que durante os sete meses que durou o alegado sequestro não parou de procurar a filha - através das redes sociais, colocando posters na rua, no Algarve, e contactando a Imprensa e diversas autoridades -, e que implorou a Filipe Silva para que lhe devolvesse a menor.

A menina relatou também que no apartamento em que viveu, no período em que esteve com o pai no Porto, vivia um amigo deste e as suas duas filhas, acrescentando que não se sentia confortável nessa habitação por ter de partilhar a cama com o pai e, por vezes, com a avó materna, quando esta os visitava.

Apesar de não ter frequentado a escola durante esse período, Ellie contou que ia todos os dias para um centro de tempos livres, onde era tratada como "Pipinha", mas que na sala onde desenvolvia as atividades estava apenas ela e um professor, não mantendo contacto com as outras crianças, por opção própria.

A mãe da menina, por seu turno, afirmou que a situação teve um grande impacto na sua saúde, tendo ficado várias vezes sem comer ou dormir e sofrido ataques de pânico e ansiedade severa, já que não sabia se a filha "estava viva ou morta".

O padrasto e atual companheiro da progenitora, também ouvido em tribunal no âmbito de um pedido de indemnização cível ao arguido, descreveu a situação vivida pelo casal como "um pesadelo".

Phillip Gannon acrescentou ainda que o pai da menina nunca pagou pensão de alimentos nem contribuiu financeiramente para a educação de Ellie e que desde junho de 2014 que não tenta contactar Candice ou a própria filha.

Antes de decidir não devolver a menina à mãe, em agosto de 2012, Filipe Silva interpôs uma providência cautelar para tentar travar a sua ida para a Irlanda, na sequência de uma carta da mãe, em que manifestava a intenção de residir definitivamente naquele país.

Na primeira sessão do julgamento, as testemunhas de defesa relataram que o pai de Ellie terá agido por desespero, por não concordar que a filha fosse para a Irlanda e porque esta lhe teria dito que não queria lá viver em permanência.