Não é difícil folhear uma revista de "imprensa cor-de-rosa" e encontrar imagens de crianças, filhas de famosos como Eric Olsen, Rachel Zoe ou Gisele Bündchen, a usarem colares de âmbar. Vendidos em lojas de pedras semipreciosas e na Internet, estes objetos chegam a custar 25 euros e são apresentados como um remédio homeopático tradicional para a dentição do bebé.

"O Âmbar do Báltico é conhecido por reduzir a acidez no corpo humano de uma forma totalmente natural. No bebé, o uso constante do colar ajuda a reduzir os sintomas mais comuns relacionados com a dentição, tais como: vermelhidão nas bochechas, gengivas inchadas, assaduras, febre, erupções cutâneas e febres", refere um dos sites que em Portugal comercializa estes artigos.

Para o pediatra Mário Cordeiro, além de não haver qualquer evidência científica de que ajudam a diminuir desconforto ou inflamação da dentição, os colares, de âmbar ou de outro material, não devem ser usados em crianças antes dos quatro ou cinco anos, pelo menos, por perigo de asfixia.

O médico questionou colegas norte-americanos para saber se conheciam estudos sobre o assunto, mas a resposta foi taxativa: "uma prática a abolir". "Mandaram-me para o departamento de Feitiçaria e Costumes Primitivos, onde me informaram que era uma prática antiga em algumas tribos, mas que não era minimamente eficaz, através de nenhum mecanismo fisiológico, para diminuir os problemas de dores e inflamação da dentição", relatou o médico numa entrevista à agência Lusa.

Dentição em formação

O pediatra explica que a idade da dentição, dos seis meses aos dois anos e meio, a criança mexe-se muito, mudando constantemente de posição e há o perigo de o colar se enganchar em qualquer obstáculo e estrangular a criança. "Não esquecer que no pescoço passam vasos sanguíneos essenciais. Não creio que um resquício de feitiçaria, misturado com moda e status social mereçam o risco de morte ou de asfixia grave", argumenta.

Também a Associação para a Promoção da Segurança Infantil (APSI) considera que não é recomendado que as crianças pequenas andem com fios ou outras coisas à volta do pescoço. "Até os próprios fios da roupa foram proibidos para crianças, por perigo de acidentes de estrangulamento. Em crianças, bebés ou mesmo maiores não se quer nada à volta do pescoço", indicou Sandra Nascimento, da APSI.

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