Júlio Bilhota Xavier falava à agência Lusa a propósito dos casos de um bebé de quatro meses que faleceu na sequência de queimaduras provocadas por água a ferver e de uma menina de três anos que teve de ser internada devido a agressões físicas muito graves.

O presidente da Comissão Nacional de Saúde Materna, da Criança e do Adolescente reconheceu que, “às vezes, não é fácil detetar este tipo de casos”, mas salientou que nunca é demais alertar os profissionais de saúde e as famílias para “pequenos sinais” que podem indiciar situações de maus tratos.

“Estes pequenos sinais podem pô-los de sobreaviso de que estas crianças têm de ser protegidas”, adiantou o pediatra, defendendo que, para prevenir estas situações, “todos os cidadãos têm de constituir-se como provedores das crianças”.

Segundo o relatório anual das Comissões de Crianças e Jovens, foram registadas, em 2013, 4.237 situações de maus tratos físicos em crianças, menos 165 casos face ao ano anterior (6,3%).

Além dos maus tratos físicos, foram comunicadas às comissões de proteção outras “situações de perigo”: 18.910 situações de negligência (que representam 25,3% do total das situações de perigo identificadas), 2.898 de abuso sexual e 2.627 de maus tratos psicológico.

Bilhota Xavier lembrou que os casos de maus tratos sempre existiram, mas hoje são mais falados porque “as pessoas estão mais despertas para estes problemas que acontecem em qualquer tipo de estrato social”.  “Ao contrário do que se pensava antigamente que só as famílias mais carenciadas é que maltratavam os seus filhos, hoje temos a prova de que qualquer família, de qualquer estrato social, também pode provocar maus-tratos aos seus filhos desde tenra idade”, sustentou.

No caso dos maus tratos psicológicos, Bilhota Xavier disse que podem estar a aumentar “como consequência da crise”. Os pais estão desempregados, têm “dificuldade em manter a alimentação dos filhos ou adquirir os livros escolares”, e esta situação acaba “também por ter alguma repercussão em termos psicológicos nos filhos, que não insensíveis” às dificuldades que os pais estão a passar.

O especialista salientou que os profissionais de saúde, os professores e os educadores estão hoje “muito mais despertos para este tipo de problemas e mais alertados para pequenos sinais que podem levar à suspeita de que aquela criança está a ser vítima de maus tratos físicos, já que os psicológicos são mais difíceis de detetar”.

Dores de barriga, dificuldade de adormecer ou sonos muito agitados podem ser “pequenos sinais que podem levar a pensar que a criança está a ser vítima de maus tratos”. Há ainda outros sinais como equimoses, hematomas, escoriações, queimaduras, cortes e mordeduras em locais pouco comuns aos traumatismos de tipo acidental (face, orelhas, boca, pescoço genitais e nádegas).

“Quando pensamos com algum suporte, com uma pequena garantia de que aquela criança está a ser vítima de maus tratos, devemos sempre desencadear todos os mecanismos necessários para proteger essa criança, mas não é fácil”, admitiu.

Por Lusa