O castigo físico, como a simples bofetada ou o abanão, a exposição às discussões dos pais e o visionamento de imagens violentas na televisão são os principais abusos de que sofrem as crianças em Portugal.

Em entrevista à Lusa, no âmbito do 3.º. Congresso sobre o Abuso e Negligência de Crianças, que decorre no Porto dias 18 e 19, a especialista Teresa Magalhães alertou que uma bofetada dada a uma criança deixa uma marca “psicológica para sempre” e que o gesto violento pode mesmo “matar”.

“Bater nas crianças pode ser muito negativo para o normal desenvolvimento delas”, defendeu Teresa Magalhães, recordando que os resultados são “prejuízos a nível psicológico”, como “baixa autoestima”, “diminuição do rendimento escolar”, “maus relacionamentos escolares”, “comportamentos desviantes” e “mais consumo de substâncias”.

O abanão do bebé ou de crianças até aos três anos é outro castigo físico que pode provocar a morte de crianças e um facto cada vez mais identificado nos serviços de saúde em Portugal, alertou a médica especialista Teresa Magalhães, diretora da Delegação Norte do Instituto Nacional de Medicina Legal, que está a coordenar o Congresso sobre o Abuso e Negligência de Crianças.

“No último ano, dois anos, os serviços de saúde portugueses estão cada vez mais atentos a estas situações [do abanão das crianças] e começam a chamar muito mais a Medicina Legal e a referenciar muito mais os casos”, assegura aquela médica, explicando que as fraturas ósseas e os traumatismos torácicos, abdominais e cranianos que passavam desapercebidos agora começam a ser referenciados.

Uma segunda forma de violência de que as crianças portuguesas mais padecem é a “exposição às discussões entre pais”, que para além de provocar um “trauma eterno” e de as transformar em adultos com “muitas raivas”, pode também provocar lesões ou mesmo a morte, avisou aquela médica.

Teresa Magalhães recorda o caso de um pai que atirou “três filhas pela janela fora de um segundo andar” e afirma que dos 21% de casos de mulheres mortas num contexto de violência doméstica, havia crianças a assistir, algumas delas sofreram lesões e nalguns casos foram mortas.

A terceira forma de abuso das crianças que vai ser abordado no congresso “Abuso e Negligência de Crianças” e que é talvez a “mais frequente” é a “exposição a imagens violentas”, designadamente através de filmes, desenhos animados ou telejornais, e que vai transformar as crianças em “adultos violentos”.

“Quando fazemos estudos sobre jovens relativamente à violência, ficamos assustados ao ver quanto eles banalizam a violência e que acham normal aqueles comportamentos”, conta a especialista, acrescentando que também há cada vez mais violência no namoro de estudantes universitários.

As crianças podem ser vítimas de abuso psicológico, físico, emocional, sexual, negligência, trabalho, mendicidade, mutilação genital, entre outros.

O principal objetivo do congresso que arranca na próxima sexta-feira, no Porto, é partilhar conhecimentos multidisciplinares e interdisciplinares na área do abuso e negligência de crianças focando a abordagem na ideia da permissividade da sociedade para com muitos dos comportamentos abusivos no nosso país.

 

Fonte: Lusa