Os contos de fadas e as fábulas parecem ser um valor seguro na literatura para a infância. Todos conhecem as histórias, mas o truque está no modo como são contadas, como se viu este ano na feira de Bolonha,em Itália.
Em muitas prateleiras e catálogos apresentados este ano na Feira do Livro Infantil de Bolonha havia um denominador comum: histórias dos irmãos Grimm, de La Fontaine, Esopo, Charles Perrault. As mesmas histórias, mas com abordagens, adaptações e ilustrações diferentes.
Ao virar de uma esquina lá estava uma Capuchinho Vermelho em destaque numa pilha de livros; muda-se de corredor e está o Lobo Mau num traço moderno e minimalista; percorre-se mais uns stands e descobre-se o lenhador a saltar da página de um livro "pop-up".
"Se é para contar esta história é para ter algo especial que acrescente um novo valor, sem perder o sentido do livro", explicou à Lusa Eva Mejuto, da editora espanhola OQO, que acaba de lançar "Las manoplas de Caperucita", de Inés Almagro e Mikel Mardones, a editar este ano também em Portugal.
Nesta história, feita com ilustração a óleo sobre madeira, a Capuchinho Vermelho vai a casa da avó, mas como esta história se passa no inverno, está a nevar e não há flores para apanhar nem um lobo mau à espreita num bosque.
A menina chega a casa da avó e em vez de ser surpreendida com alguém "com orelhas e dentes muito grandes", dá de caras com a avó, o lobo e o lenhador à volta da lareira, a bebericarem uma bebida quente, porque está muito frio.
"Queremos desconcertar, romper os padrões habituais das crianças perante estas histórias", reconheceu a responsável da editora.
Noutro pavilhão, uma editora indiana, a Digikore Studios, faz uma aproximação a esta história ocidental de óculos postos.
Para ver como é que o Lobo Mau tenta devorar a Capuchinho Vermelho é preciso ter uns óculos 3D. AS ilustrações são banais, mas sem eles até a história parece desfocada.
Na Kalandraka, a história é levada mais a sério por Antonio Rodriguez Almodovar e Marc Taeger, numa edição recente que já esgotou em português e que estava em exposição na feira em versão italiana.
Em "A Verdadeira História da Capuchinho Vermelho", a história de Charles Perrault foi revista por Almodovar à luz de uma versão de Paul Delarue, que descreve a menina comportada como uma curiosa que faz perguntas, porque tem de fazer escolhas.
Aqui não interessa se a Capuchinho Vermelho está bonita ou se o lobo é apanhado pelo lenhador. Aliás o lobo está constipado, a menina desconfia dele e tem sempre a seu lado um gato que a tenta avisar que alguma coisa não está certa.
Para as crianças com necessidades especiais, a Capuchinho Vermelho também tem a sua história, contada por Pepo Bianchessi.
"Capuceto Rosso" foi editado em 2010 pela editora Uovonero e foi um dos livros selecionados pela organização de promoção de leitura IBBY para crianças com incapacidades cognitivas ou motoras.
Fácil de folhear, o livro "Capucetto Rosso" relata a história tradicional acrescentando-lhe referências gráficas de acordo com a norma "Picture Communication Symbols".
De todas as Capuchinhos Vermelhos da feira de Bolonha, que termina hoje, só ficou a faltar a mais moderna, em versão digital.
31 de Março de 2011