“É um livro sobre a dor da infertilidade, para que os casais que passam por isto saibam que não estão sós”, refere a autora Sandra Moutinho, que lança na quinta-feira este livro, quase nove anos depois de ter sido mãe de “um filho da ciência”.

Em 2004 escreveu o primeiro livro sobre este tema, “Tudo por um filho”, numa altura em que ainda lutava pelo sonho de conseguir ser mãe e em que se debatia com uma série de dúvidas para as quais não encontrava facilmente resposta.

Esse trabalho foi então, como a própria autora diz, o livro que gostaria de ter lido e serviu para ajudar e dar respostas aos problemas e dúvidas de dezenas de casais inférteis.

Com este “Filhos da Ciência”, Sandra Moutinho fecha um capítulo da sua vida, assumindo que o escreveu porque o deve aos leitores da primeira obra e às dezenas de mães ou candidatas a tal.

“É o meu epílogo. É a página seguinte após uma luta de 15 anos contra a infertilidade. E porque me apercebi que algumas das dúvidas que eu tinha eram dúvidas de outros pais”, afirmou à Agência Lusa a jornalista de profissão.

No entanto, este não é um livro centrado apenas na história da autora, conta naturalmente com relatos na primeira pessoa, mas foca depoimentos de seis crianças nascidas em Portugal graças à Procriação Medicamente Assistida (PMA).

O primeiro bebé proveta português nasceu há 30 anos

Entre eles, o testemunho de Carlos Miguel Saleiro, o primeiro bebé proveta português, que completa 30 anos, e o de Louise Brown, que nasceu há 37 anos e foi a primeira no mundo.

Mas não é só de relatos de filhos da ciência que é feito o livro, “como 30 anos é muito tempo”, Sandra Moutinho decidiu “ir ouvir alguns especialistas portugueses na área para ter a sua visão sobre estas crianças, desde que são feitas no laboratório, até que os pediatras as seguem”.

É o caso do médico António Pereira Coelho, que “fez” Carlos Saleiro, de Alberto Barros ou de Gervásio Silva.

Conta ainda as histórias que rodearam o nascimento da primeira bebé proveta no mundo e do seu “pai científico”, Robert G. Edwards, que juntamente com o ginecologista Patrick Steptoe, foi responsável pelo primeiro nascimento de uma criança concebida fora do útero.

A Fertilização in Vitro (FIV) é até hoje um dos grandes feitos da medicina, mas Robert G. Edwards demorou mais de 30 anos a ser galardoado com o Prémio Nobel.

Sandra Moutinho procurou reunir estudos de outros países que acompanham a saúde destes bebés proveta desde o seu nascimento para tentar perceber se existe fundamento para as suspeitas de que as técnicas de PMA possam provocar problemas físicos e psicológicos nas crianças.

A principal conclusão é a de que a sua saúde é hoje melhor do que quando os procedimentos começaram a ser aplicados, uma vez que são agora mais seguros e com menor criação de embriões excedentários.

“São crianças normais. Os investigadores portugueses também chegaram a essa conclusão”, afirma a autora e jornalista da Lusa, explicando que alguns dos problemas de que padeciam estes bebés – como paralisias cerebrais ou patologias cardíacas – se deviam essencialmente à idade avançada dos pais ou a embriões implantados em excesso que levavam a partos prematuros, e não à técnica em si.

Ao nível da investigação, a autora sublinha que Portugal está na vanguarda em matéria de PMA, fazendo tudo o que se faz lá fora, ainda que os procedimentos estejam devidamente balizados pela lei.

“Aos legisladores cabe legislar, aos médicos curar. Aos casais cabe sonhar. E ninguém lhes deve travar esse sonho”.