A posição da bastonária Alexandra Bento surge após denúncias de associações de pais sobre má qualidade e pouca quantidade de alimentos fornecidos pelas cantinas.

Alexandra Bento disse não ter ficado surpreendida com a notícia, que veio confirmar vários estudos nacionais que revelam casos de escolas onde “a qualidade das refeições apresenta problemas graves”.

A denúncia partiu da Federação Regional de Lisboa das Associações de Pais (Ferlap), que recebeu fotografias tiradas por estudantes de escolas de Oeiras, Amadora e Odivelas com imagens como um prato com rissóis que não foram fritos ou com doses claramente insuficientes.

Existem regras definidas, mas não são fiscalizadas

Existem referenciais para o que é disponibilizado nas cantinas e bares “que podem ser melhorados, mas a grande preocupação é o cumprimento dessas regras e a falta de fiscalização”, sublinhou a bastonária em declarações à Lusa. “O que se verifica em algumas escolas é alarmante e esta é uma questão prioritária. O perigo para as crianças é imenso. Estamos a falar na saúde futura das nossas crianças”, alertou.

Contactado pela Lusa, o gabinete do Ministério da Educação explicou que cabe às direções escolares “a responsabilidade diária pelo refeitório e todo o seu acompanhamento, garantindo o seu bom funcionamento”.

As direções escolares devem “acompanhar o serviço prestado e proceder à avaliação das refeições”, acrescentou o ME. Este ano, os serviços do ministério já receberam várias reclamações: “Na maioria evidenciava-se o baixo nível da qualidade dos produtos utilizados pelas empresas adjudicatárias”.

A Lusa contactou o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), Manuel Pereira, que admitiu que possam existir falhas em algumas escolas, principalmente onde o serviço é feito por empresas privadas.

“As refeições deveriam ser confecionadas nas escolas, que têm cantinas e cozinhas para o fazer. Quando isso acontece não há queixas, mas atualmente muitas escolas têm entregado a confeção a privados. As refeições são técnica e cientificamente corretas mas não são apelativas para os alunos”, defendeu Manuel Pereira.

Atualmente existem 1.148 refeitórios em funcionamento nas escolas de 2.º, 3.º ciclos e secundário: 548 de gestão direta, 776 de gestão adjudicada e 24 de gestão autárquica, segundo dados do ME.

Na escola de Manuel Pereira as refeições são feitas na cantina por funcionários e o presidente garante que ficam abaixo do valor mínimo definido pela tutela: “As refeições têm de ficar entre os 1,42 euros e os 1,70 euros. Nós conseguimos fazê-las 20 cêntimos abaixo e oferecemos às crianças peixe fresco, não congelado”, garantiu à Lusa.

A Bastonária da Ordem dos Nutricionistas duvida que as empresas privadas consigam oferecer refeições com qualidade quando o valor ronda os 1,50 euros por aluno: “Com estes valores é possível conseguir o equilíbrio nutricional mas é preciso muita mestria, sendo que no caso das empresas me parece impossível, porque além dos géneros alimentares ainda têm de pagar funcionários e equipamentos”, alertou.

Para Alexandra Bento estes problemas poderiam ser minimizados com a criação de uma equipa de nutricionistas que ficariam responsáveis por supervisionar os referenciais estabelecidos para as cantinas e bares, pela garantia de que as empresas estavam a cumprir com o que se tinham comprometido nos contratos e com campanhas de promoção de saúde nas escolas.

"Às vezes não é preciso muito dinheiro. Com pequenas ações podemos ter resultados fenomenais, desde que haja conhecimento técnico e vontade", concluiu a bastonária.