Os bancos de livros têm milhares de manuais para dar, mas existem milhares de manuais que são “deitados ao lixo” porque as escolas mudam de livros e o ministério altera metas curriculares, criticou o fundador do Movimento Reutilizar.

 

Em 2011 nascia o primeiro Banco de Livros (BL) português, onde as famílias podiam deixar os usados e recolher os que precisassem. "Ainda este mês deverá abrir o 200.º banco", revelou à Lusa Henrique Cunha.

 

Atualmente, há bancos em todos os distritos e em cerca de um terço dos concelhos. Só o BL da Avenida da Boavista, no Porto, recebeu cerca de 120 mil manuais no ano passado.

“Isto dá uma dimensão do que apenas um banco consegue movimentar. No ano passado, os livros que passaram pelos nossos bancos estavam orçados em cerca de um milhão”, disse o fundador do BL e responsável pelo banco da Avenida da Boavista.

 

Apesar dos números, Henrique Cunha considerou que ainda há um longo caminho a percorrer.

 

“Continua a usar-se de muita imaginação para contornar o espirito da lei, que diz que um manual uma vez adotado deve-o ser por seis anos consecutivos”, criticou, referindo-se às recentes alterações das metas curriculares de Matemática e Português do 5º e 7.º ano que levou a que "milhares de livros fossem simplesmente deitados ao lixo”.

 

Na altura, o Ministério da Educação e Ciência (MEC) disse que não seria necessário comprar manuais novos mas, segundo Henrique Cunha, “em setembro, muitos pais foram informados pela escola de que os professores não aceitavam aqueles manuais”.

 

Cerca de metade dos 120 mil livros do BL da Boavista não chegaram a ser reutilizados por famílias que visitaram o banco - uns não estavam em bom estado de conservação e outros não eram os procurados.

Apenas a partir do 5.º ano começa a ser possível recorrer aos BL, porque são raros os manuais do 1.º ciclo em condições de serem reutilizados: “Quando os alunos têm cuidado e até escrevem a lápis, os professores acabam por corrigir os exercícios a caneta”, criticou Henrique Cunha.


As famílias com filhos no 2.º e 3.º ciclo são as que têm mais sucesso neste mercado. No secundário volta a ser mais difícil, porque existem várias vias de ensino e muitas disciplinas alternativas.

 

Para esta situação, o presidente da Confederação Nacional de Associações de Pais (Confap), Jorge Ascensão, lembrou que os livros são, de tempos a tempos, alterados. Este ano, sublinhou, foi a vez dos manuais do 8.º e do 11.º ano, e por isso “também não foi possível reutilizar, porque foram escolhidos novos”.

 

Segundo um levantamento feito pela Lusa, em média, são precisos cerca de 30 euros para os manuais do 1º ciclo. No 2.º ciclo, os livros das disciplinas principais custam à volta dos 150 euros, ao passo que no 3.º ciclo ultrapassam os 220 euros e podem chegar quase aos 300 euros no secundário.

 

Para estas famílias a alternativa passa pelas papelarias, hipermercados ou sites que neste momento estão a oferecer descontos e pagamentos faseados, mas continua a ser no mercado da segunda mão que se consegue maiores poupanças.

 

Os sites na internet multiplicam-se com ofertas que por vezes não chegam aos cinco euros. E, se os livros do 1,º ciclo custam em média menos de dez euros, no 2.º ciclo sobem facilmente para 15 euros e no 3.º ciclo e secundário é difícil encontrar manuais a menos de 20 euros.

 

Os alunos que têm direito a manuais escolares gratuitos - por terem Ação Social Escolar – têm este ano uma novidade: os que no final do ano não entregarem os manuais escolares emprestados em bom estado perdem o direito a novos.


Por Lusa