Os investigadores responsáveis pelo estudo, entre os quais Jaime Reis do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, recorreram às informações disponíveis acerca dos recrutas militares em Portugal desde o século XVIII para os comparar com os dos restantes países europeus.

 

«Portugal mantém-se dentro da faixa europeia até meados do século XIX, acompanhando os movimentos da Europa. Quando Portugal começa a divergir é à volta de meados do século XIX e não cresce quando as outras regiões estão a crescer e esse gap nunca será fechado, praticamente até aos dias de hoje», explicou à agência Lusa Jaime Reis.

 

No artigo publicado na revista Economic History Review, os autores concluem que o «atraso na formação de capital humano foi o principal fator no impedimento de quaisquer melhorias dos padrões de vida biológicos em Portugal.»

 

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) define capital humano como «algo que abrange uma mistura de talentos e habilidades individuais inatos, bem como as competências e as aprendizagens adquiridas pela educação e pela capacitação.»

 

Jaime Reis sublinha que «Portugal no século XIX tem muito pouca variação no salário real e, portanto, a estatura não cresce», ressalvando que há diversas variáveis em funcionamento ao mesmo tempo, desde as condições socioeconómicas ao crescimento urbano dos países.

 

O académico lembra que o trabalho pretende contribuir para responder à pergunta «Porque é que Portugal é um país atrasado?», ainda que não se pretenda explicar «porque é que o salário real português é mais baixo do que nos outros países», mas sim constatar que esse desnível «se traduziu em custos para a população.»

 

O investigador do Instituto de Ciências Sociais lembra que a estatura de um indivíduo é definida «20 anos antes da medida», ou seja, é determinada «pela experiência nutricional no princípio da vida», pelo que, quando a pessoa «chega aos 20 anos, as condições podem mudar, mas ele já não vai mudar de estatura», o mesmo se passando com o capital humano.

 

O artigo revelou que «os preços relativos das proteínas e o ambiente das doenças não tiveram um impacto estatisticamente significativo», mas que, por outro lado, o atraso na formação de capital humano foi «claramente importante», e uma vez que «a dependência de escolhas educativas implica que o capital humano se recria, os efeitos foram de longo prazo.»

 

 

Maria João Pratt

Fonte: Lusa

 

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