Apesar de tantos as mães como os pais que trabalham fora de casa apresentarem uma propensão semelhante para pensarem em assuntos familiares ao longo do dia, só para as mães é que este tipo de trabalho mental está associado a um stresse aumentado e à instalação de emoções negativas, de acordo com um novo estudo apresentado na 108ª reunião anual da Associação Americana de Sociologia.

 

«Suponho que uma vez que as mães suportam uma fatia maior da responsabilidade pelos filhos e pela vida familiar, quando pensam sobre assuntos relacionados com a família tendem a pensar nos seus aspetos menos positivos – tais como ter de ir buscar a horas o filho à creche ou ter de marcar uma consulta no pediatra para um filho adoentado – e é mais provável que se preocupem mais», afirmou Shira Offer, autora do estudo e professora do Departamento de Sociologia e Antropologia da Universidade Bar-Ilan, em Israel.

 

Muito tem sido escrito sobre a divisão desigual do trabalho doméstico e dos cuidados infantis, mas a esmagadora maioria dos estudos nesse campo examina, comportamentos específicos, disse Shira Offer. «Esses estudos focam o aspeto físico das tarefas e obrigações, que pode ser medido e quantificado de forma relativamente fácil», afirmou.

 

«No entanto, grande parte do trabalho que fazemos, remunerado ou não, tem lugar na nossa mente. Estamos muitas vezes preocupadas com as coisas que temos de fazer que muitas vezes e sentimo-nos stressadas para não nos esquecermos delas ou para fazê-las a tempo- estes pensamentos e preocupações – trabalho mental – pode comprometer o nosso desempenho, tornando difícil concentrarmo-nos nas tarefas e até pode mesmo afetar o sono. Este trabalho mental é o foco do meu estudo.»

 

A investigadora descobriu que, no geral, as mães trabalhadoras envolvem-se em trabalho mental cerca de um quarto do seu tempo total de vigília, enquanto os pais trabalhadores somente um quinto. Isto equivale a cerca de 29 e 24 horas por semana de trabalho mental para mães e pais, respetivamente. No entanto, tanto as mães como os pais tanto gastam perto de 30 por cento do tempo envolvido no trabalho mental em assuntos de família.

 

«Esperava que o hiato de género em trabalho mental, em especial nos aspetos relacionados com a família, fosse muito maior», disse Shira Offer. «O que minha investigação mostra, na verdade, é que as diferenças de género no trabalho mental são mais uma questão de qualidade do que quantidade.»

 

É por isto que a prática de trabalho mental específico sobre a família afeta negativamente o bem-estar das mães, mas não dos pais. A especialista considera que as expectativas da sociedade empurram as mães a assumirem o papel de gestoras da casa e levá-as a resolver desproporcionalmente os aspetos menos agradáveis do cuidado da família. «Acredito que o que faz deste tipo de trabalho mental uma experiência negativa e stressante para as mães em geral é que elas são as únicas que são socialmente julgadas e responsabilizadas pelas questões relacionadas com a família», disse.

 

«Sabemos que são as mães quem geralmente ajustam o horário de trabalho para atender às demandas da família, como ficar em casa com uma criança doente», afirmou Shira Offer. «Portanto, as mães podem sentir que não se dedicam tempo suficiente ao seu trabalho e têm de compensar, e, como resultado, preocupam-se facilmente com questões relacionadas com o trabalho fora do horário laboral. Isto ilustra o duplo fardo – a pressão para serem boas mães e boas trabalhadoras – que as mães trabalhadoras vivenciam.»

 

«Parece, no entanto, que os pais são muito hábeis em deixar assuas preocupações laborais no local de trabalho e são mais capazes de traçar fronteiras entre trabalho e família. Acredito que os pais podem dar-se ao luxo de fazer isso porque alguém, ou seja, as mães, assumem a maior responsabilidade pelo agregado familiar e puericultura», concluiu Shira Offer.

 

 

Maria João Pratt