Enjoos matinais, cabelo brilhante e sedoso e desejos bizarros por picles mergulhados em gelado – que expetativas as grávidas impõem ais seus corpos e como são essas expetativas influenciadas pelas perspetivas culturais sobre a gravidez? Danielle Bessett , socióloga da Universidade de Cincinatti, apresentou estas e outras questões à 108ª reunião anual da Associação Americana de Sociologia.

 

Embora estudos anteriores tenham indicado que as mulheres recorrem a fontes médicas para descobrir o que esperar quando estão grávidas, a investigação de Danielle Bessett descobriu que as mulheres grávidas são fortemente influenciadas pela «sabedoria popular» nos seus círculos sociais e nos meios de comunicação social.

 

A investigadora chama a este fenómeno de «mitologias da gravidez» e define-o como formas de conhecimento fragmentadas, contraditórias e elusivas.

 

«Algumas das grávidas estudadas baseiam-se em tradições étnico-religiosos, enquanto outras têm pouca ou nenhuma experiência pessoal com a gravidez», diz Danielle Bessett. «Umas poucas tinham histórias reprodutivas complicadas. Dependendo desses variados locais biográficos e estruturais, as mulheres afirmaram, afligiram-se, criticaram e contestaram aspetos chave da mitologia da gravidez», declara a investigadora, acrescentando que todas as mulheres entrevistadas se viram confrontadas com mitologias durante a gravidez.

 

A socióloga afirma que a maioria das mulheres tende a minimizar a influência das mitologias da gravidez quando questionadas diretamente sobre as fontes de informação em que mais confiavam. Só quando pressionadas para explicarem como decidiram manter expectativas específicas para o que iria acontecer durante a gravidez é que as mulheres referenciaram os meios de comunicação social como fontes.

 

Na verdade, muitas vezes as mulheres viram-se sem uma explicação para o que aprenderam sobre o que «normalmente acontece» na gravidez. Nas entrevistas, Danielle Bessett descobriu que algumas mulheres ficaram alarmadas quando não vivenciavam sintomas popularmente associados à gravidez, como os enjoos matinais, temendo que algo pode estar errado com a saúde do feto.

 

«Quer sejam agradáveis, inconvenientes ou debilitantes, na nossa cultura os sintomas de gravidez não são tratados como meros efeitos secundários da gravidez, mas sim como uma ligação significativa com o feto e com a subjetividade fetal», explica a socióloga. Por exemplo, uma mãe disse que os vómitos persistiam porque o seu bebé não gostava do que ela comia. Outra explicou que os seus desejos eram devidos ao seu bebé «gostar de frango frito».

«Muitos sintomas eram frequentemente vistos como manifestações tangíveis de desejos do feto, necessidades ou características pessoais», descreve Danielle Bessett. Enquanto questões como náuseas, ânsias e dores de parto ocupam lugares de destaque na mitologia da gravidez, outros incómodos, tais como cansaço, insónia, gases, dores de cabeça e tornozelos inchados não estão tão popularmente vinculados ou são discutidos.

 

«Seja porque são um tanto raros (como sangramentos relacionados com a gravidez) ou porque dizem respeito a partes do corpo sobre as quais não é “educado” falar (como hemorroidas), estes sintomas não são tipicamente retratado nas narrativas da comunicação social sobre a gravidez, nem são sintomas que os amigos e familiares frequentemente partilham com as mulheres antes da gravidez», diz Danielle Bessett.

 

A investigadora conclui que «Aparentemente, subestimamos o grau de entendimento sobre a gravidez que construímos ao longo da vida e a medida em que esse entendimento nos afeta».

 

 

Maria João Pratt