Embora os hábitos tabágicos dos amigos possam ter menos influência sobre os adolescentes ao longo do tempo, investigadores norte-americanos afirmam que os pais parecem manter-se como a maior influência sobre o ato de fumar dos filhos que frequentam o 3º ciclo de ensino. O novo estudo, publicado na mais recente edição da revista Journal of Adolescent Health, sugere que os programas de intervenção tabágica focados na pressão dos colegas para fumar seriam mais eficazes em alunos do 3º ciclo do que em alunos do ensino secundário.

 

Com base em estudos anteriores, que olharam para o desenvolvimento social, o investigador Yue Liao, um dos autores deste novo estudo, afirma que «pensávamos que os amigos teriam uma influência maior para a adoção de hábitos tabágicos no ensino secundário do que no 3º ciclo do ensino básico».

 

«Mas o que descobrimos foi que os amigos têm maior influência durante o 3º ciclo do que durante o ensino secundário. Pensamos que os hábitos tabágicos dos amigos podem ter uma influência mais forte sobre os jovens que começam a fumar numa idade mais jovem», diz Yue Liao. «Durante o secundário, uso do cigarro pode representar a manutenção de comportamentos adquiridos durante o ensino básico em vez de um resultado da influência dos pares».

 

Influências diferentes sobre raparigas e rapazes

Os investigadores descobriram que o hábito de fumar em crianças é significativamente afetado pelos hábitos dos seus pares e dos seus pais, tanto no 3º ciclo do ensino básico como no ensino secundário. A influência dos amigos, no entanto, é mais forte no 3º ciclo do ensino básico.

 

Entre os alunos do 9º e do 10º anos, as raparigas são as mais afetadas pelo comportamento tabágico dos amigos que os rapazes, notaram os investigadores. À medida que se avançou para o 11º e o 12º anos, no entanto, os amigos e os pais tiveram menos influência sobre as raparigas.

 

Curiosamente, os rapazes nesta idade eram cada vez mais influenciados pelos hábitos tabágicos dos seus amigos. «Os rapazes tendem a promover a amizade pelo envolvimento em comportamentos partilhados, enquanto as raparigas estão mais focadas na partilha emocional», explica Yue Liao. «Desta forma, é possível que os rapazes adotem os comportamentos de risco dos seus amigos, como o tabagismo, à medida que o grupo cresce junto ao longo do tempo».

 

Os autores do estudo pensam que as suas descobertas podem ajudar no desenvolvimento de programas antitabagismo na adolescência.

 

«Observamos uma grande diminuição no “efeito amigos” sobre o comportamento de fumar do 8º para o 9º ano. Assim, o 7º ano do ensino básico representa uma oportunidade para intervenções para neutralizar a influência dos pares e para continuar a orientar os pais, uma vez que o seu comportamento continua influente até o final do ensino básico», afirma Yue Liao. «Além disso, dotar os alunos da capacidade de dizer não durante o ensino básico poderá ser eficaz em diminuir o uso do cigarro no início do ensino secundário. Os programas também poderiam promover competências parentais positivas para proteger as crianças da influência desviante dos pares».

 

Os investigadores consideram ser necessária mais investigação para explorar a influência dos irmãos sobre o tabagismo na adolescência.

 

Desenho do estudo

Para o estudo, os investigadores examinaram informações sobre mil adolescentes envolvidos no Projeto de Prevenção do Centro-Oeste, o programa aleatório de prevenção do uso de substâncias mais antigo dos Estados Unidos da América.

 

Os alunos foram inquiridos pela primeira vez no sétimo ano de escolaridade, quando tinham 11 anos de idade. Foram reavaliados após seis meses, e depois uma vez por ano até ao 12º ano.

 

Foi perguntado aos participantes quantos dos seus amigos chegados e se os pais (ou dois adultos importantes nas suas vidas) fumavam cigarros. Também foram inquiridos sobre o número de cigarros fumados no mês anterior. Ao longo do estudo, a influência dos amigos e dos pais dos alunos foi analisada para determinar se sofreu alterações à medida que os alunos avançavam na escolaridade.

 

 

Maria João Pratt